segunda-feira, 29 de abril de 2013

12. MEDIUNIDADE DOS SANTOS





Nos estudos anteriores sobre Mediunidade aprendemos que esta faculdade não é um fenômeno restrito de nosso tempo e cultura, que o intercâmbio com o mundo espiritual sempre ocorreu em todas as tradições, culturas, civilizações e tribos arcaicas. Por não ser exclusivo a nenhuma crença religiosa, o Espiritismo nos permite um estudo e uma apreciação mais clara e pura de como se processam os fenômenos mediúnicos (sobrenaturais).
        O objetivo desse texto é analisar os relatos tradicionais e oficiais da Igreja Católica sobre a mediunidade dos santos e buscar entender o universo gigantesco do potencial transcendente da consciência humana.
    Na existência dos grandes heróis da fé, que a Igreja denomina genericamente santos, encontramos os mais notáveis e maravilhosos testemunhos espirituais da ação inteligente do Mundo Invisível junto aos seres terrenos. O fato de serem ícones da Igreja católica não altera nada a fenomenologia que apresentam, apenas se tem uma interpretação diferente de seus prodígios. As fontes aqui utilizadas são citações de biógrafos dos santos ou autobiografia destes cujas obras foram autorizadas pela própria Igreja Católica. Os relatos e fatos citados foram extraídos de obras chanceladas com o imprimatur e o nihil obstat da Igreja.
       

1. MEDIUNIDADE NO CATOLICISMO

   Dentre as várias personalidades, destacam-se:



  • SANTA TERESA D’ÁVILA


A clarividência (faculdade de ver os espíritos) na vida de Santa Teresa de Jesus, a grande mística de Ávila, é por ela mesma atestada no magnífico volume de sua autobiografia, precioso conjunto de depoimentos mediúnicos que confirmam a veracidade e a lógica da interpretação espírita dos fenômenos psíquicos, tão abundantes na vida dos grandes santos quanto na missão dos verdadeiros médiuns.
As aparições de Cristo na vida da grande mística de Ávila são inúmeras. No capítulo VII de sua Vida, fala das graves irregularidades morais dos conventos espanhóis: “Usa-se tão pouco o caminho da verdadeira religião que o frade ou a freira que começam a seguir deveras os seus chamados, mais devem temer os companheiros de casa do que a todos os demônios... Não sei de que nos espantamos vendo que há tantos males na Igreja; pois aqueles que deveriam ser os exemplos de quem todos tirassem virtudes, só fazem manchar os esforços dos Santos, passados nas lides da religião.” E refere-se a determinadas visitas que compareciam aos conventos e que a Santa não cuidava serem moralmente perigosas: “Estando eu com uma pessoa pouco tempo depois de conhecê-la, quis o Senhor dar-me a entender que não me convinham aquelas amizades, avisar-me e dar-me luz em cegueira tão grande. Apareceu-me Cristo com grande rigor, dando-me a entender quanto aquilo Lhe pesava. Vi-O com os olhos da alma, mais claramente do que O poderia ver com os olhos do corpo e ficou aquilo tão bem impresso em mim que agora, passados vinte e seis anos, ainda me parece que O tenho presente...Fez-me muito mal o fato de não saber que era possível ver sem os olhos do corpo; e o demônio, que me ajudou nesse engano, fez-me entender que era coisa impossível; que eu o havia imaginado; que só poderia ser obra diabólica e outras coisas dessa espécie. Contudo, sempre me ficava a ideia de que fora obra de Deus e que não era ilusão”.
No texto, é explícita a declaração da clarividência da Santa. Cristo lhe apareceu e a repreendeu. Interessante é notar a observação seguinte. Diz Santa Teresa que viu Jesus “com os olhos da alma, mais claramente do que o poderia ver com os olhos do corpo”. Estava absolutamente certa a grande Doutora da Igreja. A Doutrina Espírita explica como se processa a sensibilização das antenas psíquicas para o fenômeno da clarividência.


  • SANTA BRÍGIDA


À semelhança das antigas profetisas do Velho e do Novo Testamento, na mesma tradição que remonta a Miriã, irmã de Moisés, com seus louvores a Deus e suas dificuldades mediúnicas; a Hulda, que profetizou a destruição de Jerusalém; a Débora, com suas intervenções na política de seu povo e de seu tempo e a Ana, filha de Fanuel, que reconheceu em Jesus menino, quando apresentado do Templo, o Cristo prometido e assim o proclamou... Na mesma trajetória espiritual de Francisco de Assis e de Catarina de Siena, Brígida dirige sua palavra inspirada ao povo da Suécia. Fala aos reis e aos príncipes de sua pátria, aos seus chefes religiosos locais e, finalmente, ao próprio Papa de Roma. Foi, por isso, chamada de “correio a serviço de um Grande Senhor”.
Transmite ao povo palavras proféticas, que ouve das elevadas esferas espirituais. Chega a anunciar catástrofes para a sua pátria e suas predições vieram a cumprir-se. No processo de canonização, Petrus Olai, seu confessor e que muitas vezes funcionou como seu secretário, relata que quando Fru Brigitta se estabeleceu em Alvastra (Suécia), no ano de 1346, “aconteceu que Deus lhe concedeu em grande abundância visões e divinas revelações; não enquanto ela dormia, mas em vigília, quando orava. O corpo permanecia como sempre, mas ela era arrebatada em êxtase, fora dos sentidos”. Era Petrus Olai que escrevia os ditados transcendentais e as traduzia para o latim (“...cominciò Petrus Olai a scrivere e a tradurre tutte le visioni e rivelazioni...”).
Em Roma, o Espírito de São Francisco de Assis lhe apareceu numa Igreja a ele dedicada, no Trastevere, no dia 4 de outubro de 1351, Brígida vê e ouve o Espírito do Poverello, que lhe fala com especial carinho. Meses depois, a Santa, em companhia de sua filha Karin (Catarina) e outros peregrinos se dirige a Assis. Joergensen descreve as impressões da vidente sueca ao chegar ao humilde santuário de Francisco. Traduzimos apenas o seguinte trecho: Sobre o altar não havia nenhum quadro, mas estava São Francisco em pessoa. Dos estigmas de suas mãos, de seus pés e do lado, EMANAVAM RAIOS DOURADOS; e esses raios traspassaram o coração de Brígida: ‘Bem-vinda sejas aqui, aonde te convidei. Mas existe uma morada que ainda é mais minha – a obediência...’
Santa Brígida escreveu sob inspiração (psicografou) um livro denominado Sermo Angelicus. Estava ela em Roma, por volta de 1350, hospedada num palácio que lhe fora oferecido temporariamente pelo Cardeal Hugo de Beaufort, irmão do Papa Clemente VI, e que na época residia em Avinhão. Foi na capela desse palácio que – como claramente se expressa Joergensen - , “Brígida, sob o ditado de um Anjo, escreveu o Sermo Angelicus”.


  • SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE


Ampla faculdade de clarividência possuiu Santa Margarida Maria Alacoque, a vidente de Paray-le-Monial. O Padre J. Croiset, em seu Compêndio diz que Margarida Maria desde a infância via os Espíritos de Jesus e de Maria Santíssima, havendo sido por gratidão à Santa Mãe do Senhor, que a curara de uma paralisia, que acrescentou o nome de Maria ao seu nome de batismo, Margarida Alacoque. Suas visões ela mesma descreve amplamente em sua autobiografia. "Minha Mãe Santíssima me disse amorosamente, para me consolar: 'Não temas coisa alguma; hás de ser minha verdadeira filha, e eu hei de ser sempre tua boa Mãe”.


  • SÃO JOÃO BOSCO

         

        Um dos mais notáveis fenômenos mediúnicos da vida de Dom João Bosco é o seu colóquio com o Espírito daquele que foi seu condiscípulo e íntimo amigo, uma nobilíssima alma, Luís Comollo. O fato foi testemunhado pela mãe do Santo, D. Margarida Bosco. O que não se pode saber ao certo - pelo silêncio que em torno do singular fenômeno fez Dom Bosco - é que se o acontecimento se limitou a simples clarividência, tão comum na vida do missionário italiano, ou se o Espírito de Luís Comollo se materializou e pôde, assim, conversar mais intimamente com seu amigo terreno. Esta última hipótese é bem plausível. De qualquer modo, entretanto, o fenômeno é extraordinário e quem o descreve é o ilustre Padre A. Auffray, no seu célebre Saint Jean Bosco, obra premiada pela Academia Francesa.
        Antes de 1870, quando se completou a unificação da Itália, Dom Bosco havia previsto (premonição) os acontecimentos políticos resultantes do "Risorgimento" e suas implicações com a Igreja Romana. Chamado pelo Papa, a quem escrevera sobre o assunto, São João Bosco anunciou a Pio IX os acontecimentos que realmente se verificaram em futuro próximo: "anunciou - conta o Padre Luís Chiavarino - a terrível batalha entre a França e a Prússia; predisse que as tropas de Napoleão seriam retiradas de Roma; falou da queda do Império Francês e das grandes catástrofes que se desencadeariam sobre a França..." Perguntou ainda ao Papa se poderia prosseguir com suas revelações. Mas, Pio IX, comovidíssimo com as predições, pediu-lhe que não continuasse.


  • SANTA JOANA D´ARC


A médium Joana D´Arc escutava a voz do espírito (clariaudiente) de S. Miguel, patrono dos franceses, acompanhado de Santa Catarina e Santa Margarida.


  • SANTA LUZIA



      Imune às chamas, teve visões do espírito de Santa Ágata e outras entidades espirituais, que a auxiliaram a realizar curas em Catânia.


  • SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA


Teve forças para livrar-se do constante assédio de espíritos inferiores. Foi clarividente, possuía o dom da profecia, de bilocação (está em dois lugares diferentes ao mesmo tempo) e cura. Curou uma menina de 4 anos, aleijada e atacada de epilepsia.


  • SÃO VICENTE DE PAULO


Viu em detalhes o desligamento e a ascensão do espírito de Santa Joana de Chantal. Depois, celebrando a missa pela defunta, teve nova visão, persuadindo-se de que aquela irmã era bem-aventurada e não precisava de orações.


2. CONCLUSÃO

    Os santos eram pessoas dotadas de função mediúnica, seus dons paranormais são perfeitamente observados, estudados e explicados pela Doutrina Espírita, constatando-se nenhum fato miraculoso ou inexplicável.

“Nós reconhecemos a existência de Missionários da Luz em todos os tempos e em todas as agremiações filosóficas ou religiosas da Terra. Não importa o nome que os designe: benfeitores espirituais, como comumente os chamamos, Missionários ou Santos, Gurus, Sufis, ou Arhats… Eles se encarnam em todas as pátrias e desfraldam em todos os ambientes humanos a bandeira da espiritualidade superior de que são intérpretes e mensageiros. Naturalmente, condicionam sua linguagem ao seu meio e ao seu tempo, como também é natural que sejam influenciados humanamente pela sua época e pelo seu ambiente”. (Clóvis Tavares)


3. REFERÊNCIAS
- Clóvis Nunes Tavares e Flávio Mussa. Mediunidade dos Santos. São Paulo: Prestígio, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário