domingo, 25 de maio de 2014

22 - O SOFRIMENTO E A PORTA FALSA DO SUICÍDIO


        Desde que se admita Deus, não podemos concebê-LO sem a infinidade das perfeições; Ele deve ser todo poderoso, todo justiça, todo bondade, sem isso não seria Deus. Se Deus é soberanamente bom e justo, não pode agir por capricho nem com parcialidade. As vicissitudes da vida têm uma causa, e desde que Deus é justo, esta causa deve ser justa. Eis do que cada um deve bem se compenetrar. Deus colocou os homens sobre o caminho dessa causa pelos ensinamentos de Jesus, e hoje, julgando-os bastante maduros para a compreender, Ele lhes revelou tudo por inteiro pelo Espiritismo, isto é pela voz dos Espíritos.
        O homem sobre a terra, e colocado sob a influência das ideias carnais, vê nessa provas apenas o lado penoso; mas na vida espiritual, compara essas gozos fugidios e grosseiros com a felicidade inalterável que ele entrevê, e então vê que foram apenas sofrimentos passageiros. O Espírito pode então escolher a prova mais rude, e por consequência a existência mais penosa na esperança de chegar mais rápido a um estado melhor, como na doença escolheria frequentemente o remédio mais desagradável para se curar mais cedo. Aquele que quer ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não escolhe uma rota florida; sabe dos perigos que corre, mas sabe também a glória que o espera se for bem sucedido.
        A doutrina da liberdade de escolha de nossas existências e das provas que devemos suportar cessa de parecer extraordinária se consideramos que os Espíritos, livres da matéria, apreciam as coisas de uma maneira diferente do que o fazemos nós mesmos. Eles se apercebem do objetivo, de maneira bem mais séria para eles do que dos gozos do mundo; após cada existência, vêm o que fizeram no passado, e compreendem o que lhes falta ainda atingir em pureza: eis porque se submetem voluntariamente à todas as vicissitudes da vida corporal procurando, por eles mesmos, aquelas que podem fazê-los lá chegar mais prontamente. É por isso justamente que nos admiramos de não ver o Espírito dar preferência a uma existência mais doce. Ele não poderia gozar, em seu estado de imperfeição, uma vida isenta de amarguras; mas a entrevê, e é para aí chegar que procura se melhorar.
        Aqueles que nascem em semelhantes condições certamente não fizeram nada nesta vida para merecer tão triste sorte, sem compensação, sem que a pudessem evitar, impotentes de a mudar por eles mesmos, e que os coloca à mercê da comiseração pública. Por que então estes seres tão desgraçados, enquanto que a seu lado, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos sob todos os aspectos?
        Que dizer enfim das crianças que morrem em tenra idade e tendo conhecido da vida apenas os sofrimentos? Problemas que nenhum filósofo pode ainda resolver, anomalias que nenhuma religião pode justificar, e que seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, na hipótese de que a alma fosse criada ao mesmo tempo que o corpo, e que sua sorte estivesse irrevogavelmente fixada após uma residência de alguns instantes sobre a terra. Que fizeram eles, essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para sofrer tanta miséria aqui em baixo, e merecer no porvir uma recompensa ou uma punição qualquer, enquanto ainda não puderam fazer nem bem nem mal?
        Entretanto, não é necessário crer que todo sofrimento suportado aqui em baixo seja necessariamente indicação de uma falta determinada; são, frequentemente, simples provas escolhidas para acabar sua depuração e acelerar seu adiantamento. Assim a expiação serve sempre de prova, mas a prova não é sempre uma expiação; mas, provas e expiações, são sempre sinais de uma inferioridade relativa, porque aquele que é perfeito não tem necessidade de ser provado. Um Espírito pode então ter adquirido um certo grau de elevação, mas, querendo avançar ainda, solicita uma missão, uma tarefa a cumprir, da qual, se sair vitorioso, será tanto mais recompensado quanto mais penosa a luta tenha sido. Tais são mais especialmente essas pessoas com instintos naturais bons, de alma elevada, de nobres sentimentos natos que parecem não ter trazido nada de mau de sua existência precedente, e que suportam com uma resignação toda cristã as maiores dores, pedindo a Deus que as suportem sem murmurar. Ao contrário, pode-se considerar como expiações as aflições que excitam murmurações e impelem o homem à revolta contra Deus.


1- CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DO SUICÍDIO


        O suicídio é considerado como a falta mais grave passível de ser cometida pela criatura humana. O suicida viola o instinto de conservação, força admirável da qual é dotado o princípio espiritual e que dá a ele a vontade e a obstinação de lutar pela sua sobrevivência. Embora seja um crime de consequências tão funestas, e combatido por todos as religiões, seus índices têm crescido de forma significativa, especialmente nos países desenvolvidos e nas classes mais bem favorecidas economicamente.
       Várias condições são anotadas como responsáveis pelas diversas causas de autocídio: dificuldades econômicas, perda de ente querido, frustração amorosa, complexo de culpa, viciações múltiplas, etc. Allan Kardec, sintetizando a questão, afirma que “se excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa geral é sempre o descontentamento.”
        Joanna de Ângelis no livro Após a Tempestade, completando o tema diz que a base real do autocídio está no orgulho ferido. O suicida é uma alma extremamente orgulhosa que, ante o descontentamento, prefere a morte ao esforço nobre para superação do obstáculo ou da frustração. Lembra Joanna, que a vontade do suicida é “destruir Deus, mas como isso não é possível, ele destrói a si mesmo que é a mais sublime criação de Deus.”
         Em o Livro dos Espíritos, na questão 957, Allan Kardec nos diz: “As consequências do suicídio são as mais diversas. Não há penalidades fixadas e em todos os casos, elas são sempre relativas às causas que o produziram. Mas uma consequência a que o suicida não pode escapar é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos, dependendo das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros numa nova existência que será pior do que aquela cuja curso interromperam".
        Há, porém, as consequências que são comuns a todos os casos de morte violenta; as que decorrem da interrupção brusca da vida. Observa-se a persistência mais prolongada e mais tenaz do laço que liga o Espírito ao corpo, porque este laço está quase sempre em todo o vigor no momento em que foi rompido. Na morte natural ele enfraquece gradualmente e, às vezes, se desata antes mesmo da extinção completa da vida. As consequências desse estado de coisas são o prolongamento do estado de perturbação, seguido da ilusão que, durante um tempo mais ou menos longo, faz o Espírito acreditar que ainda se encontra no número dos vivos.
        A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de recuperação do estado do corpo sobre o Espírito, que assim se ressente dos efeitos da decomposição, experimentando uma sensação cheia de angústias e de horror. Este estado pode persistir tão longamente quanto tivesse de durar a vida que foi interrompida.
        Em alguns casos, o suicida não se livra das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia essa falta, de outra maneira. É assim, que certos Espíritos que haviam sido muito infelizes na Terra, disseram haver se suicidado na existência precedente e estar voluntariamente submetidos a novas provas, tentando suportá-las com mais resignação.”



        De forma didática, podemos separar em três fases o processo de reparação do suicídio:
1ª Fase - Expiação na Erraticidade: Corresponde ao sofrimento do suicida no mundo espiritual logo após o seu desencarne.
2ª Fase - Reencarnação Compulsória: Consiste na existência corporal que segue àquela onde ele cometeu o suicídio. Geralmente é de curta duração, objetivando recompor o corpo espiritual lesado.
3ª Fase - Reencarnação como Teste: Trata-se de uma nova existência física onde o Espírito faltoso vai deparar-se com a mesma condição frustrante que o levou ao suicídio no passado para superá-la e, assim, concluir o resgate do erro.
  

2- O PAPEL DO ESPIRITISMO

        A religião, a moral e todas as filosofias condenam o suicídio como contrário à lei da natureza; todos nos dizem em princípio que não se tem o direito de voluntariamente abreviar sua própria vida. Mas por que não se tem esse direito? Por que não se é livre de dar um termo a seus sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo daqueles que sucumbiram, que esse ato não seria somente uma falta, uma infração a uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas sim um ato estúpido, já que nada se ganha, longe disso, muito mais se perde; isso não é a teoria que nos ensina, são os fatos que são colocados sob os nossos olhos.

        Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, encontramos o seguinte pensamento: “A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio. Com efeito, a maior parte dos casos de loucura é provocada pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias seguintes, facilmente adquire paciência. Ele só se desespera se não vir um termo para o seu sofrimento. E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia?
        O espírita tem, portanto, para opor a ideia do suicídio, muitas razões: a certeza de que sobrevindo sua vida, chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava. Por isso o número de suicídios que o Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que quando todos forem espíritas não haverá mais suicídios conscientes.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS   

  • O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. VI e 4ª parte) 
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo Allan Kardec (cap. V, Bem-aventurados os aflitos)
  • O Céu e o Inferno Allan Kardec (2ª parte, cap. V, Suicidas)
  • Memórias de um Suicida - Yvonne Pereira.
  • Após a Tempestade - Joanna de Ângelis/Divaldo Franco


domingo, 11 de maio de 2014

21- DIA DAS MÃES

     

     Convencionou-se, no Brasil, homenagear as mães no mês de maio, mais precisamente em seu segundo domingo.
     Assim, com larga antecedência, o comércio em geral aciona os meios de comunicação e todos somos convocados, quase que “intimados” pelo clima que se cria, a participar do evento, obviamente comprando, no mínimo, um presente.
     Com todo o respeito, pensamos que dia das mães é todo dia e que há outros meios, bem melhores, de homenageá-las.
     Com efeito, um deles, bastante simples mas profundo, seria agradecer-lhes, diariamente, por terem concordado, juntamente com nossos pais, com o nosso renascimento na Terra, permitindo, assim, a nossa reencarnação, verdadeira bênção da oportunidade!
     Sim, a oportunidade da vida, das provas, das expiações, do progresso intelectual e moral, da evolução enfim, que a todos nós conduzirá, um dia, à perfeição relativa e à felicidade suprema.
     Para se ter uma ideia, por comparação, do que representa a oportunidade do renascer, basta que se diga que, apenas no Brasil, são realizados cerca de 5.000.000 (cinco milhões) de abortos por ano, de acordo com estatísticas não oficiais. É possível, e até provável, que este número seja ainda maior.
     Ora, como bem esclarece o Espírito Joanna de Ângelis, através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, “Um filho, em qualquer circunstância, é compromisso assumido antes do berço pelos genitores que responderão, perante as divinas Leis, pelo comportamento a que se entreguem” ( encontrável no livro Luz Viva, p. 74), não sem antes definir que “A vida não é patrimônio da criatura humana, que apenas empresta ao Espírito o envoltório carnal transitório, não lhe cabendo, portanto, o direito de a fazer cessar” (obra citada, p. 73).
     A propósito, na questão 880 de O Livro dos Espíritos, perguntou Allan Kardec: “Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?”, ao que os Espíritos, liderados pelo Espírito Verdade, responderam: “O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal”.
     É claro que não estamos aqui incluindo os abortos espontâneo e terapêutico, este último realizado para salvação da vida orgânica da gestante, de que trata a pergunta nº 359 de O Livro dos Espíritos, obra basilar da Doutrina Espírita.
     Aliás, interessante salientar que, nesse ponto, coincide a legislação humana (pelo menos a brasileira) com a legislação divina, posto que, no Brasil, quando houver grave risco à gestante, o aborto não é considerado crime.
     Nas demais hipóteses (conquanto pela legislação brasileira, hoje, também não seja considerado crime o aborto, provocado, em caso de fecundação resultante de estupro), sob o enfoque das Leis Divinas, que são perfeitas e, por isso mesmo, imutáveis, o aborto, em verdade, é um crime hediondo contra um ser que não pode se defender e nem sequer pode suplicar por piedade, por clemência.
Ademais disso, não podemos nos esquecer da advertência do Espírito Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, que “Todo filho é empréstimo sagrado que deve ser valorizado e melhorado pelo cinzel do amor dos pais, para oportuna devolução ao Genitor Celeste” (Após a Tempestade, p. 70).
     Por outro lado, importantíssimo destacar o ensinamento do Espírito Camilo através da mediunidade de José Raul Teixeira, a saber: “Desse modo, se desejarmos eliminar da esfera do mundo as práticas nefandas do aborto criminoso e infeliz, carecemos de reestruturar a educação da criança, do jovem, do homem, da mulher, a fim de que as ideias do bem, do amor, do respeito à vida se tornem o oxigênio da Humanidade, fazendo felizes as criaturas. É para realizar esse desiderato, o de conduzir o gênero humano nos caminhos da prudência e do equilíbrio, andando com passos firmes para Deus, que o Espiritismo luziu sobre a Terra, para cumprir o mister de educar e reeducar as almas, abolindo, definitivamente, o aborto das concepções do bem no mundo” (Cintilação das Estrelas, p. 94).
     Assim sendo, não é difícil concluir que nós, espíritos agora encarnados, somos ou devemos ser muito gratos às nossas mães, que, com a participação de nossos pais, nos permitiram renascer, oferecendo-nos nova e valiosa oportunidade. E que oportunidade!
Por isso, expressando esse sentimento, o sentimento da gratidão, todos os dias, às nossas mães, encarnadas ou não, estaremos prestando homenagem compatível com a maternidade, verdadeira missão do espírito encarnado em corpo feminil no planeta Terra. 



 CARTA DE AGRADECIMENTO
 (Amélia Rodrigues)


Mãezinha querida:
Conceda-me sua bênção!
Trago os olhos orvalhados de lágrimas ante o calidoscópio das recordações da nossa inesquecível comunhão terrestre.
Você havia programado para sua filha toda uma trajetória de felicidade e empenhou-se para que se tornasse exequível a consecução dos seus planos.
Investiu sua existência abençoada pela ternura e pelo amor, sem propor qualquer exigência.
Desde os primeiros dias da nossa convivência, enquanto me embalava nos braços cantando as ternas canções de ninar, o seu pensamento voava na direção do futuro, pintando as paisagens ditosas para sua menina.
Cresci sob o céu generoso do seu coração aberto ao enternecimento, sempre irrigada e mantida pela inefável vigilância do seu devotamento.
À semelhança de uma delicada flor, você cuidava de mim, impedindo que os fatores de destruição me alcançassem.
Enrijeceu-me os sentimentos morais em torno dos deveres e das responsabilidades, desenvolveu-me a inteligência com os recursos da sua pedagogia sábia e impulsionou-me ao progresso espiritual...
Mas eu não me dava conta, porém, no meu estado de crescimento intelecto-moral, dos sacrifícios que tudo isto lhe causava, sem compreender que o pavio da vela que produz luz, gasta-se enquanto arde e consome o combustível que sustenta a claridade.
Foi, desse modo, que você partiu para a imortalidade, quando estava a um passo do triunfo terreno.
Jamais olvidarei o seu olhar de despedida, quando os lábios já não podiam emitir os sons das palavras.
Logo depois, alcancei o pódio da glória e recebi muitas homenagens.
Ninguém pensou, no entanto, que eu era o fruto da sua devoção, o resultado do seu miraculoso trabalho de modelar a argila que eu era, elaborando aquilo em que me transformei.
Venho hoje agradecer-lhe, estrela da minha noite e luz perene de todos os meus dias.
As palavras são muito pobres para expressar-lhe o meu amor infinito e toda a minha gratidão.
Enquanto as mães tecerem a túnica de proteção enobrecedora para os filhos, a Humanidade estará garantida e avançará conquistando o infinito.
Quando vemos o desar e o sofrimento na Terra, em verdadeiro campeonato de alucinações, percebemos que somente o amor, conforme o possuem as mães, poderá deter o avanço dessas aflições tormentosas.
As mães logram atenuar a violência e a loucura generalizada, muitas vezes sendo suas vítimas em holocaustos de autodoação, que terminam por modificar a Terra em agonia...
No dia dedicado a todas as mães, desejo transferir para você, que prossegue acompanhando-me do zimbório celeste, todo o meu carinho e afeto, à medida que você vem deixando o rastro iluminado para que eu possa um dia alcançá-la no Paraíso, após concluída a minha tarefa humana.
Eis, porém, que agora, liberta dos grilhões constritores da matéria, inicio a ascensão em sua busca, aguardando o seu apoio e proteção.
Mãezinha querida!
Que Deus a abençoe sempre!