“Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como
os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da
falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça
distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros.”
(O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap.V, item 7)
O sofrimento é um fenômeno de tal amplitude e gravidade
que é extremamente delicado abordá-lo, tanto por aqueles que não experimentando
alguma sensação de sofrimento o receiam e assim o descartam, quanto por aqueles
que vitimados pela dor, têm como único desejo obter um apaziguamento.
Existem dois tipos de dores: a dor física e a dor moral. A dor física é uma resposta do corpo físico ao mau uso que fazemos dele, é um alerta, um aviso da
natureza que procura nos preservar dos excessos. Sem ela abusaríamos de nossos
órgãos a ponto de os destruir antes da hora. A dor moral é aquela que o próprio ser angaria em virtude de seus equívocos e tem
como finalidade evoluir o homem, lapidar seus sentimentos e purificar
sua alma.
Na maioria das vezes nós ignoramos os avisos
repetidos da natureza e deixamos a doença se desenvolver em nós, então podemos vê-la como um benefício se, causada por nossos abusos e vícios, nos ensinar a
detestá-los e a nos corrigirmos. É preciso sofrer para se conhecer e para bem
conhecer a vida. Epicteto dizia: “É uma falsa idéia pretender que a saúde é um
bem e a doença um mal. Usar bem a saúde é um bem; e usar mal é um mal. Usar bem
a doença é um bem; e usar mal é um mal. Tira-se o bem de tudo, mesmo da morte”.
A dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo
para as imperfeições e as enfermidades da alma. Sem ela nenhuma cura seria
possível. Por isso que o evangelho nos pede que saibamos aceitar os efeitos da dor como aceitamos os remédios amargos e as operações
dolorosas que devem restituir a saúde e a agilidade ao nosso corpo. Ainda mesmo
que o desgosto, as humilhações e a ruína nos oprimam, suportemo-las com
paciência. O trabalhador dilacera o seio da terra para fazer brotar a colheita
dourada. Assim, de nossa alma dilacerada surgirá uma abundante colheita moral.
Então, não é por vingança que a lei nos atinge, mas porque é bom e proveitoso
sofrer.
O primeiro movimento do homem infeliz é se revoltar sob
os golpes da sorte. Mas, mais tarde, quando o espírito já escalou os declives e
contempla o áspero caminho percorrido, o desfilar de suas existências, é com um
enternecimento alegre que recordará as provas e tribulações com ajuda das quais
pode galgar os mais altos cumes.
Se nas horas de provação soubermos observar o trabalho
interior, a ação misteriosa da dor em nós, em nosso eu, em nossa consciência,
compreenderemos melhor sua sublime obra de educação e de aperfeiçoamento.
Veremos que ela atinge sempre o ponto sensível. Perceberemos então que quanto
mais o ser humano se aperfeiçoa, mais os frutos da dor se tornam admiráveis
nele.
Por muito tempo ainda, a humanidade terrestre,
ignorante das leis superiores e inconsciente do porvir e do dever, terá
necessidade da dor, para estimulá-la na sua vida e para transformar o que
predomina nela, os instintos primitivos e grosseiros em sentimentos puros e
generosos. Por muito tempo o homem deverá passar pela iniciação amarga para
chegar ao conhecimento de si mesmo e de seu objetivo. Os sofrimentos poderão
variar, se deslocar, mudar de aspecto, mas a dor persistirá enquanto o egoísmo
e o interesse regerem as sociedades terrestres, o pensamento se esquivar das
coisas profundas e enquanto a flor da alma não tiver desabrochado.
Ensina-nos os espírito Emmanuel no livro "Justiça Divina", que somos Espíritos doentes em laboriosa restauração devido aos débitos contraídos no passado. Todos somos enfermos pedindo alta.
Sofrimento portanto é a consequência de violações, abusos, no curso dos quais a Lei Divina foi desrespeitada e os deveres negligenciados. Dor e adversidade apresentam-se hoje como oportunidades de resgatar débitos e de conquistar a liberdade. É o remédio para as imperfeições do Espírito, para as enfermidades da alma. Do ponto de vista espiritual, o sofrimento é a oportunidade de conquistar valores para a Vida Imortal - a verdadeira vida.
Alguém poderia perguntar: Qual deve ser a atitude correta frente aos sofrimentos que nos avassalam?
Será sempre a da Conformação Lúcida, isto é, entendendo as raízes do sofrimento, aceitar com resignação, sem rebeldia, sem recriminação, trabalhando confiante e perseverante no bem, aceitando-o como remédio amargo - operação dolorosa - mas imprescindível que deve restituir a saúde do corpo e a paz do Espírito.
Aprendamos com a benfeitora espiritual, que nos ensina a não esmorecer frente as dificuldades e sofrimento, mas buscar forças na oração sincera a Deus, suportando as dores e rogando na prece o bálsamo suavizante e consolador dos males.
"Não te agastes, pois, com os acontecimentos afligentes que independem de ti. Refugia-te na Palavra clarificadora do Evangelho consolador e enxuga tuas lágrimas com as suas lições. Dos seus textos extrai o licor da vitalidade e tece com as mãos da esperança a grinalda de paz para o coração lanhado e sofrido. Se conseguires afogar todas as penas na oração de refazimento, sairás do colóquio da prece restaurado, e descobrirás que, apesar de tudo acontecer em dias que tais, Jesus luze intimamente nas províncias do teu espírito. Poderás, então, confiar e seguir firme, certo da perene vitória do amor".
(Joanna de Ângelis - Lampadário Espírita)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- O Problema do Ser, do Destino e da Dor de Léon Denis (3ª parte, cap. XXVI, A dor)
- O Problema do Ser, do Destino e da Dor de Léon Denis (3ª parte, cap. XXVII, Revelação pela dor)
- O Evangelho segundo o Espiritismo de Allan Kardec (cap. V, Bem-aventurados os aflitos)
- Depois da morte de Léon Denis (5ª parte, cap. L, Resignação na adversidade)
- O Espiritismo, que sabemos? de USFF (cap. XXVI, A quem corresponde o sofrimento)
- Espiritualismo versus a luz de Louis Serré (cap. VI, O mal, o bem, o sofrimento)
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