terça-feira, 6 de maio de 2014

20 - FUNÇÃO E NECESSIDADE DO SOFRIMENTO




“Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros.”
(O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap.V, item 7)


     O sofrimento é um fenômeno de tal amplitude e gravidade que é extremamente delicado abordá-lo, tanto por aqueles que não experimentando alguma sensação de sofrimento o receiam e assim o descartam, quanto por aqueles que vitimados pela dor, têm como único desejo obter um apaziguamento.
     Existem dois tipos de dores: a dor física e a dor moral. A dor física é uma resposta do corpo físico ao mau uso que fazemos dele, é um alerta, um aviso da natureza que procura nos preservar dos excessos. Sem ela abusaríamos de nossos órgãos a ponto de os destruir antes da hora.  A dor moral é aquela que o próprio ser angaria em virtude de seus equívocos e tem como finalidade evoluir o homem, lapidar seus sentimentos e purificar sua alma.

     Na maioria das vezes nós ignoramos os avisos repetidos da natureza e deixamos a doença se desenvolver em nós, então podemos vê-la como um benefício se, causada por nossos abusos e vícios, nos ensinar a detestá-los e a nos corrigirmos. É preciso sofrer para se conhecer e para bem conhecer a vida. Epicteto dizia: “É uma falsa idéia pretender que a saúde é um bem e a doença um mal. Usar bem a saúde é um bem; e usar mal é um mal. Usar bem a doença é um bem; e usar mal é um mal. Tira-se o bem de tudo, mesmo da morte”.

     A dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo para as imperfeições e as enfermidades da alma. Sem ela nenhuma cura seria possível. Por isso que o evangelho nos pede que saibamos aceitar os efeitos da dor como aceitamos os remédios amargos e as operações dolorosas que devem restituir a saúde e a agilidade ao nosso corpo. Ainda mesmo que o desgosto, as humilhações e a ruína nos oprimam, suportemo-las com paciência. O trabalhador dilacera o seio da terra para fazer brotar a colheita dourada. Assim, de nossa alma dilacerada surgirá uma abundante colheita moral. Então, não é por vingança que a lei nos atinge, mas porque é bom e proveitoso sofrer.

     


     O primeiro movimento do homem infeliz é se revoltar sob os golpes da sorte. Mas, mais tarde, quando o espírito já escalou os declives e contempla o áspero caminho percorrido, o desfilar de suas existências, é com um enternecimento alegre que recordará as provas e tribulações com ajuda das quais pode galgar os mais altos cumes.

     Se nas horas de provação soubermos observar o trabalho interior, a ação misteriosa da dor em nós, em nosso eu, em nossa consciência, compreenderemos melhor sua sublime obra de educação e de aperfeiçoamento. Veremos que ela atinge sempre o ponto sensível. Perceberemos então que quanto mais o ser humano se aperfeiçoa, mais os frutos da dor se tornam admiráveis nele.




     Por muito tempo ainda, a humanidade terrestre, ignorante das leis superiores e inconsciente do porvir e do dever, terá necessidade da dor, para estimulá-la na sua vida e para transformar o que predomina nela, os instintos primitivos e grosseiros em sentimentos puros e generosos. Por muito tempo o homem deverá passar pela iniciação amarga para chegar ao conhecimento de si mesmo e de seu objetivo. Os sofrimentos poderão variar, se deslocar, mudar de aspecto, mas a dor persistirá enquanto o egoísmo e o interesse regerem as sociedades terrestres, o pensamento se esquivar das coisas profundas e enquanto a flor da alma não tiver desabrochado.
     Ensina-nos os espírito Emmanuel no livro "Justiça Divina", que somos Espíritos doentes em laboriosa restauração devido aos débitos contraídos no passado. Todos somos enfermos pedindo alta.      
     Sofrimento portanto é a consequência de violações, abusos, no curso dos quais a Lei Divina foi desrespeitada e os deveres negligenciados. Dor e adversidade apresentam-se hoje como oportunidades de resgatar débitos e de conquistar a liberdade. É o remédio para as imperfeições do Espírito, para as enfermidades da alma. Do ponto de vista espiritual, o sofrimento é a oportunidade de conquistar valores para a Vida Imortal - a verdadeira vida.

     

     
     Alguém poderia perguntar: Qual deve ser a atitude correta frente aos sofrimentos que nos avassalam? 
     
     Será sempre a da Conformação Lúcida, isto é, entendendo as raízes do sofrimento, aceitar com resignação, sem rebeldia, sem recriminação, trabalhando confiante e perseverante no bem, aceitando-o como remédio amargo - operação dolorosa - mas imprescindível que deve restituir a saúde do corpo e a paz do Espírito.
     Aprendamos com a benfeitora espiritual, que nos ensina a não esmorecer frente as dificuldades e sofrimento, mas buscar forças na oração sincera a Deus, suportando as dores e rogando na prece o bálsamo suavizante e consolador dos males. 
     
"Não te agastes, pois, com os acontecimentos afligentes que independem de ti. Refugia-te na Palavra clarificadora do Evangelho consolador e enxuga tuas lágrimas com as suas lições. Dos seus textos extrai o licor da vitalidade e tece com as mãos da esperança a grinalda de paz para o coração lanhado e sofrido. Se conseguires afogar todas as penas na oração de refazimento, sairás do colóquio da prece restaurado, e descobrirás que, apesar de tudo acontecer em dias que tais, Jesus luze intimamente nas províncias do teu espírito. Poderás, então, confiar e seguir firme, certo da perene vitória do amor".  
(Joanna de Ângelis - Lampadário Espírita)







REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


  • O Problema do Ser, do Destino e da Dor de Léon Denis (3ª parte, cap. XXVI, A dor) 
  •  O Problema do Ser, do Destino e da Dor de Léon Denis (3ª parte, cap. XXVII, Revelação pela dor) 
  •  O Evangelho segundo o Espiritismo de Allan Kardec (cap. V, Bem-aventurados os aflitos) 
  •  Depois da morte de Léon Denis (5ª parte, cap. L, Resignação na adversidade) 
  •  O Espiritismo, que sabemos? de USFF (cap. XXVI, A quem corresponde o sofrimento)
  • Espiritualismo versus a luz de Louis Serré (cap. VI, O mal, o bem, o sofrimento)

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