Desde que se admita Deus, não podemos concebê-LO sem a
infinidade das perfeições; Ele deve ser todo poderoso, todo justiça, todo
bondade, sem isso não seria Deus. Se Deus é soberanamente bom e justo, não pode
agir por capricho nem com parcialidade. As vicissitudes da vida têm uma
causa, e desde que Deus é justo, esta causa deve ser justa. Eis do que cada
um deve bem se compenetrar. Deus colocou os homens sobre o caminho dessa causa
pelos ensinamentos de Jesus, e hoje, julgando-os bastante maduros para a compreender,
Ele lhes revelou tudo por inteiro pelo Espiritismo, isto é pela voz
dos Espíritos.
O homem sobre a terra, e colocado sob a influência das
ideias carnais, vê nessa provas apenas o lado penoso; mas na vida espiritual,
compara essas gozos fugidios e grosseiros com a felicidade inalterável que ele
entrevê, e então vê que foram apenas sofrimentos passageiros. O Espírito pode
então escolher a prova mais rude, e por consequência a existência mais penosa
na esperança de chegar mais rápido a um estado melhor, como na doença
escolheria frequentemente o remédio mais desagradável para se curar mais cedo.
Aquele que quer ligar seu nome à descoberta de um país desconhecido não escolhe
uma rota florida; sabe dos perigos que corre, mas sabe também a glória que o
espera se for bem sucedido.
A doutrina da liberdade de escolha de nossas
existências e das provas que devemos suportar cessa de parecer extraordinária
se consideramos que os Espíritos, livres da matéria, apreciam as coisas de uma
maneira diferente do que o fazemos nós mesmos. Eles se apercebem do objetivo,
de maneira bem mais séria para eles do que dos gozos do mundo; após cada
existência, vêm o que fizeram no passado, e compreendem o que lhes falta ainda
atingir em pureza: eis porque se submetem voluntariamente à todas as
vicissitudes da vida corporal procurando, por eles mesmos, aquelas que podem
fazê-los lá chegar mais prontamente. É por isso justamente que nos admiramos de
não ver o Espírito dar preferência a uma existência mais doce. Ele não poderia
gozar, em seu estado de imperfeição, uma vida isenta de amarguras; mas a
entrevê, e é para aí chegar que procura se melhorar.
Aqueles que nascem em semelhantes condições certamente
não fizeram nada nesta vida para merecer tão triste sorte, sem compensação, sem
que a pudessem evitar, impotentes de a mudar por eles mesmos, e que os coloca à
mercê da comiseração pública. Por que então estes seres tão desgraçados,
enquanto que a seu lado, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são
favorecidos sob todos os aspectos?
Que dizer enfim das crianças que morrem em tenra idade
e tendo conhecido da vida apenas os sofrimentos? Problemas que nenhum filósofo
pode ainda resolver, anomalias que nenhuma religião pode justificar, e que
seriam a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, na hipótese
de que a alma fosse criada ao mesmo tempo que o corpo, e que sua sorte
estivesse irrevogavelmente fixada após uma residência de alguns instantes sobre
a terra. Que fizeram eles, essas almas que acabam de sair das mãos do Criador,
para sofrer tanta miséria aqui em baixo, e merecer no porvir uma recompensa ou
uma punição qualquer, enquanto ainda não puderam fazer nem bem nem mal?
Entretanto, não é necessário crer que todo sofrimento
suportado aqui em baixo seja necessariamente indicação de uma falta determinada;
são, frequentemente, simples provas escolhidas para acabar sua depuração e
acelerar seu adiantamento. Assim a expiação serve sempre de prova, mas a prova
não é sempre uma expiação; mas, provas e expiações, são sempre sinais de uma
inferioridade relativa, porque aquele que é perfeito não tem necessidade de ser
provado. Um Espírito pode então ter adquirido um certo grau de elevação, mas,
querendo avançar ainda, solicita uma missão, uma tarefa a cumprir, da qual, se
sair vitorioso, será tanto mais recompensado quanto mais penosa a luta tenha
sido. Tais são mais especialmente essas pessoas com instintos naturais bons, de
alma elevada, de nobres sentimentos natos que parecem não ter trazido nada de
mau de sua existência precedente, e que suportam com uma resignação toda cristã
as maiores dores, pedindo a Deus que as suportem sem murmurar. Ao contrário,
pode-se considerar como expiações as aflições que excitam murmurações e impelem
o homem à revolta contra Deus.
O suicídio é considerado como a falta mais grave passível de
ser cometida pela criatura humana. O suicida viola o instinto de conservação,
força admirável da qual é dotado o princípio espiritual e que dá a ele a
vontade e a obstinação de lutar pela sua sobrevivência. Embora seja um crime de consequências tão funestas, e
combatido por todos as religiões, seus índices têm crescido de forma
significativa, especialmente nos países desenvolvidos e nas classes mais bem
favorecidas economicamente.
Várias condições são anotadas como responsáveis pelas
diversas causas de autocídio: dificuldades econômicas, perda de ente querido,
frustração amorosa, complexo de culpa, viciações múltiplas, etc. Allan Kardec, sintetizando a questão, afirma que “se excetuarmos os que se verificam por força da
embriaguez e da loucura, é certo que, sejam quais forem os motivos
particulares, a causa geral é sempre o descontentamento.”
Joanna de Ângelis no livro Após a Tempestade, completando o
tema diz que a base real do autocídio está no orgulho ferido. O suicida é uma
alma extremamente orgulhosa que, ante o descontentamento, prefere a morte ao
esforço nobre para superação do obstáculo ou da frustração. Lembra Joanna, que
a vontade do suicida é “destruir Deus, mas como isso não é possível, ele
destrói a si mesmo que é a mais sublime criação de Deus.”
Em o Livro dos Espíritos, na questão 957, Allan Kardec nos diz: “As consequências do suicídio são as mais diversas. Não há penalidades fixadas e em todos os casos, elas são sempre relativas às causas que o produziram. Mas uma consequência a que o suicida não pode escapar é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos, dependendo das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros numa nova existência que será pior do que aquela cuja curso interromperam".
Em o Livro dos Espíritos, na questão 957, Allan Kardec nos diz: “As consequências do suicídio são as mais diversas. Não há penalidades fixadas e em todos os casos, elas são sempre relativas às causas que o produziram. Mas uma consequência a que o suicida não pode escapar é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos, dependendo das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros numa nova existência que será pior do que aquela cuja curso interromperam".
Há, porém, as consequências que são comuns a todos os casos
de morte violenta; as que decorrem da interrupção brusca da vida. Observa-se a
persistência mais prolongada e mais tenaz do laço que liga o Espírito ao corpo,
porque este laço está quase sempre em todo o vigor no momento em que foi
rompido. Na morte natural ele enfraquece gradualmente e, às vezes, se desata
antes mesmo da extinção completa da vida. As consequências desse estado de
coisas são o prolongamento do estado de perturbação, seguido da ilusão que,
durante um tempo mais ou menos longo, faz o Espírito acreditar que ainda se
encontra no número dos vivos.
A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz,
em alguns suicidas, uma espécie de recuperação do estado do corpo sobre o
Espírito, que assim se ressente dos efeitos da decomposição, experimentando uma
sensação cheia de angústias e de horror. Este estado pode persistir tão
longamente quanto tivesse de durar a vida que foi interrompida.
Em alguns casos, o suicida não se livra das consequências da
sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia essa falta, de outra maneira. É
assim, que certos Espíritos que haviam sido muito infelizes na Terra, disseram
haver se suicidado na existência precedente e estar voluntariamente submetidos
a novas provas, tentando suportá-las com mais resignação.”
1ª Fase - Expiação na
Erraticidade: Corresponde ao sofrimento do suicida no mundo espiritual logo
após o seu desencarne.
2ª Fase - Reencarnação
Compulsória: Consiste na existência corporal que segue àquela onde ele
cometeu o suicídio. Geralmente é de curta duração, objetivando recompor o corpo
espiritual lesado.
3ª Fase - Reencarnação
como Teste: Trata-se de uma nova existência física onde o Espírito faltoso
vai deparar-se com a mesma condição frustrante que o levou ao suicídio no
passado para superá-la e, assim, concluir o resgate do erro.
2- O PAPEL DO ESPIRITISMO
A religião, a moral e todas as filosofias condenam o
suicídio como contrário à lei da natureza; todos nos dizem em princípio que não
se tem o direito de voluntariamente abreviar sua própria vida. Mas por que não
se tem esse direito? Por que não se é livre de dar um termo a seus sofrimentos?
Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo daqueles que
sucumbiram, que esse ato não seria somente uma falta, uma infração a uma lei
moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas sim um ato
estúpido, já que nada se ganha, longe disso, muito mais se perde; isso não é a
teoria que nos ensina, são os fatos que são colocados sob os nossos olhos.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, encontramos o seguinte pensamento: “A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio. Com efeito, a maior parte dos casos de loucura é provocada pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias seguintes, facilmente adquire paciência. Ele só se desespera se não vir um termo para o seu sofrimento. E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia?
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, encontramos o seguinte pensamento: “A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio. Com efeito, a maior parte dos casos de loucura é provocada pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias seguintes, facilmente adquire paciência. Ele só se desespera se não vir um termo para o seu sofrimento. E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia?
O espírita tem, portanto, para opor a ideia do suicídio,
muitas razões: a certeza de que sobrevindo sua vida, chega a um resultado
inteiramente contrário ao que esperava. Por isso o número de suicídios que o
Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que quando todos forem
espíritas não haverá mais suicídios conscientes.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- O Livro dos Espíritos Allan Kardec (2ª parte, cap. VI e 4ª parte)
- O Evangelho Segundo o Espiritismo Allan Kardec (cap. V, Bem-aventurados os aflitos)
- O Céu e o Inferno Allan Kardec (2ª parte, cap. V, Suicidas)
- Memórias de um Suicida - Yvonne Pereira.
- Após a Tempestade - Joanna de Ângelis/Divaldo Franco