Estudando as civilizações da Terra, vamos
observar que a crença na imortalidade da alma e a possibilidade da comunicação
entre os "vivos" e os "mortos" sempre existiu.
Ao observarmos o passado, evocando a
lembrança das religiões desaparecidas, das crenças mortas, veremos que todas
elas tinham um ensinamento dúplice: um exterior ou público, com suas
cerimônias bizarras, rituais e mitos, e outro interior ou secreto revestido de um
caráter profundo e elevado. Os aspectos exteriores eram levados ao povo de um
modo geral, enquanto que o aspecto interior era revelado apenas a indivíduos especiais
(iniciados).
Julgar uma religião apenas levando em
consideração o seu aspecto exterior, será o mesmo que apreciar o valor moral de
uma pessoa por suas vestes. Analisando o aspecto interior destas religiões,
observaremos que todos os ensinamentos estão ligados entre si como uma única
doutrina básica, que os homens trazem intuitivamente, desde um passado longínquo.
01. RELIGIÕES DO PASSADO
- ÍNDIA
Na
Índia, berço de todas as religiões da Humanidade, temos o Livro dos Vedas, datado
de aproximadamente 1.500 a.C., que tem sido reconhecido como o mais antigo
código religioso da Humanidade; são quatro livros cujo conteúdo principal são cânticos
de louvor. Os Brâmanes, seguidores dos Vedas, acreditam que este código
religioso foi ditado por Brahma. Nos Vedas encontramos afirmativas claras sobre
imortalidade da alma e a recriação:
"Há uma parte imortal no Homem, o Agni,
ela é que é preciso rescaldar com teus raios, inflamar com os teus fogos(...).
(...) Assim como se deixam as vestes gastas,
para usar novas vestes,
também a alma deixa o corpo usado para
recobrir novos corpos."
Ainda
na Índia, encontramos Krishna, educado por ascetas nas florestas do cume do
Himalaia, inspirador de uma doutrina religiosa, na verdade um reformulador da
Doutrina Védica. Deixa claro a ideia da imortalidade da alma, as reencarnações
sucessivas, e a possibilidade de comunicação entre vivos e mortos:
"O corpo envoltório da alma, que nele
faz sua morada,
é uma coisa finita, porém a alma que o habita
é invisível, imponderável e eterna."
"Todo renascimento feliz ou infeliz é
consequência
das obras praticadas em vidas
anteriores."
Estes
são alguns aspectos dos ensinamentos de Krishna, que podem ser encontrados nos
livros sagrados, conservados nos santuários ao sul do Industão.
Também
na Índia, 600 a.C., vamos encontrar Siddartha Gautama, o Buda, filho de um rei
da Índia, que certo dia saindo do castelo, onde até então vivera, tem contato
com o sofrimento humano e, sendo tomado de grande tristeza, refugia-se nas
florestas frias do Himalaia e, depois de aproximadamente 15
anos de meditação, retorna trazendo para a Humanidade uma nova crença, toda
baseada na caridade e no amor:
"Enquanto não
conquistar o progresso (Nirvana) o ser está condenado a cadeia das existências
terrestres."
"Todos os Homens são
destinados ao Nirvana."
Buda e seus discípulos praticavam o Dhyana, ou seja, a contemplação aos
mortos:
"Durante este estado, o
Espírito entra em comunicação
com as almas que já deixaram
a Terra."
- EGITO
No Egito, o culto aos mortos foi muito praticado. As Ciências psíquicas
atuais eram familiares aos sacerdotes da época; o conhecimento das formas
fluídicas e do magnetismo eram comuns. O destino da alma, a comunicação com os
mortos, a pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados eram, para
eles, problemas solucionados e conhecidos. Egiptólogos modernos, estudando as
pirâmides, os túmulos dos faraós, os papiros, deixam claro todos estes aspectos
reconhecendo a grande sabedoria deste povo. Como em outras religiões, apenas os
iniciados conheciam as grandes verdades, o povo, por interesse de poder dos
soberanos, praticamente mantinha-se ignorante a este respeito.
- CHINA
Na
China, vamos encontrar Lao-Tsé e Confúcio, 600 a 400 a.C., que com os seus discípulos
(iniciados), mantinham no culto dos antepassados a base de sua fé. Neste culto,
a ideia da imortalidade e a possibilidade da evocação dos mortos era clara.
- ISRAEL
Cerca
de 15 séculos antes de Cristo, Moisés, o grande legislador hebreu, observando a
ignorância e o despreparo de seu povo, procura através de uma lei disciplinar,
educar os hebreus com relação a evocação dos mortos. Se houve esta proibição, é
claro que a evocação dos mortos era comum entre este povo da Antiguidade. Moisés
assim se referiu:
"Que ninguém use de sortilégio e de
encantamentos,
nem interrogue os mortos para saber a
verdade."
Não
havia chegado o momento para tais revelações. Estudando a vida de Moisés, vemos
que ele era possuidor de uma mediunidade
fabulosa que
possibilitou o recebimento dos "Dez Mandamentos", no Sinai, que até
hoje representa a base dos códigos de moral e ética no mundo.
- GRÉCIA
Na
Grécia, a crença nas evocações era geral. Vários filósofos, desta progressista
civilização, se referem a estes fatos: Pitágoras (600 a.C.) Astófanes, Sófocles
(400 a.C.) e a maravilhosa figura de Sócrates (400 a.C.). A ideia da unicidade de
Deus, da pluralidade dos mundos habitados e da multiplicidade das existências
era por eles transmitidas a todos os seus iniciados. Sócrates, o grande
filósofo, aureolado por divinas claridades espirituais, tem uma existência que
em algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo:
"A
alma quando despida do corpo, conserva evidentes,
os
traços de seu caráter, de suas afeições e as marcas
que lhe
deixaram todos os atos de sua vida."
- JESUS
Jesus
teve sua existência assinalada por fenômenos mediúnicos diversos. O Novo
Testamento traz citações claras e belas em suas mais diferentes modalidades,
como na conversa e aparição dos profetas Elias e Moisés na transfiguração do
Tabor.
- IDADE MÉDIA
A
Idade Média foi uma época em que o estudo mais profundo da religião era praticado
apenas por sociedades ultra-secretas. Milhares de vidas foram sacrificadas sob a
acusação de feitiçaria, por evocarem os mortos.
Nesta
época, tão triste para a Humanidade, em vários aspectos, podemos citar como uma
grande figura, Joana D'arc, que guiando o povo francês, sob orientação de
"suas vozes", deixou claro a possibilidade da comunicação entre os
vivos e os mortos.
- O ESPIRITISMO
Foi no
século XIX (1848), na pacata cidade de Hydesville, no estado de New York (EUA),
na casa da família Fox, que o fenômeno mediúnico começaria a ser conhecido em
todo o mundo.
Chegara
o momento em que todas as coisas deveriam ser restabelecidas. Foi quando surgiu
no cenário terrestre, aquele que deu corpo à Doutrina dos Espíritos: Hippolyte
Léon Denizard Rivail, ou Allan Kardec, como ficou conhecido.
Em
1855, com a idade de 51 anos, Kardec iniciou um trabalho criterioso e científico
sobre o fenômeno mediúnico e após alguns anos de estudos sistematizados lançou,
em 18 de abril de 1857, O Livro dos Espíritos; em 1859 - O Que é o Espiritismo;
em 1861 - O Livro dos Médiuns; em 1864 - O Evangelho Segundo o Espiritismo; em
1865 – O Céu e o Inferno; e em 1868 - A Gênese.
Graças
ao sábio lionês tivemos a Codificação da Doutrina Espírita reconhecida como a
Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus.
02. DA PROIBIÇÃO DE EVOCAR OS MORTOS
A Igreja de modo algum nega
a realidade das manifestações. Ao contrário, admite-as totalmente,
atribuindo-as à exclusiva intervenção dos demônios.
É debalde invocar os Evangelhos
como fazem alguns para justificar a sua interdição, visto que os Evangelhos
nada dizem a esse respeito. O supremo argumento que prevalece é a proibição de
Moisés.
"Não é permitido entreter relações com eles (os
Espíritos), seja imediatamente, seja por intermédio dos que os evocam e
interrogam.
A lei moisaica punia os
gentios. Não procureis os mágicos, diz o Levítico, nem procureis saber coisa
alguma dos adivinhos, de maneira a vos contaminardes por meio deles. (Cap. XIX,
v. 31.) Morra de morte o homem ou a mulher em quem houver Espírito pitônico;
sejam apedrejados e sobre eles recaia seu sangue. (Cap. XX, v. 27.)
O Deuteronômio diz: Nunca
exista entre vós quem consulte adivinhos, quem observe sonhos e agouros, quem
use de malefícios, sortilégios, encantamentos, ou consultem os que têm o Espírito
pitônico e se dão a práticas de adivinhação interrogando os mortos. O Senhor
abomina todas essas coisas e destruirá, à vossa entrada, as nações que cometem
tais crimes." (Cap. XVIII, vv. 10, 11 e 12.).
Se Moisés proibiu evocar os
mortos, é que estes podiam vir, pois do contrário inútil fora a proibição. Ora,
se os mortos podiam vir naqueles tempos, também o podem hoje; e se são
Espíritos de mortos os que vêm, não são exclusivamente demônios.
Estas palavras são
inequívocas e provam claramente que nesse tempo as evocações tinham por fim a
adivinhação, ao mesmo tempo que constituíam comércio, associadas às práticas da
magia e do sortilégio, acompanhadas até de sacrifícios humanos. Moisés tinha
razão, portanto, proibindo tais coisas e afirmando que Deus as abominava.
Essas práticas
supersticiosas perpetuaram-se até à Idade Média, mas hoje a razão predomina, ao
mesmo tempo que o Espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente moral,
consolador e religioso das relações de além-túmulo.
Uma vez, porém, que os
espíritas não fazem qualquer sacrifífio nem fazem libações para honrar deuses;
uma vez que não interrogam astros, mortos e augures para adivinhar a verdade
sabiamente velada aos homens; uma vez que repudiam traficar com a faculdade de
comunicar com os Espíritos; uma vez que os não move a curiosidade nem a
cupidez, mas um sentimento de piedade, um desejo de instruir-se e melhorar-se,
aliviando as almas sofredoras; uma vez que assim é, porque o é – a proibição de
Moisés não lhes pode ser extensiva.
Se os que clamam
injustamente contra os espíritas se aprofundassem mais no sentido das palavras
bíblicas, reconheceriam que nada existe de análogo, nos princípios do
Espiritismo, com o que se passava entre os hebreus. A verdade é que o
Espiritismo condena tudo que motivou a interdição de Moisés; mas os seus
adversários, no afã de encontrar argumentos com que rebatam as novas ideias,
nem se apercebem que tais argumentos são negativos, por serem completamente
falsos.
FONTES DE CONSULTA
- KARDEC, Allan. Da Proibição de Evocar os Mortos.
In: - O Céu e o Inferno.
- Intervenção dos Demônios nas Modernas Manifestações.
In: O Céu e o Inferno.
- O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro.
75. ed. Rio de Janeiro, FEB, 1983. Introdução, item 6.
- VELHO TESTAMENTO. In: A Bíblia Sagrada. Trad. Por
João Ferreira de Almeida.
- FRANCO, Divaldo Pereira. Mediunidade. In: _ .
Estudos Espíritas . Pelo Espírito Joan-na de Ângelis. FEB, 1995.
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