domingo, 3 de março de 2013

1. ANTECEDENTES DA DOUTRINA ESPÍRITA.



1.1. Os precursores da Doutrina Espírita

    A comunicação dos espíritos com o mundo material remontam à mais recuada antiguidade e, desde então, vêm ocorrendo em todos os tempos e entre todos os povos. A História está pontilhada desses fenômenos. Segundo Gabriel Delanne, já se encontravam relatos de evocações de espíritos no Código dos Vedas  datado de 1000 a.C. Na Bíblia, existem váriasreferências à comunicação dos espíritos com os encarnados, dentre as quais esta recomendação do apóstolo João: “Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus” (I João 4:1). A este propósito, também Paulo de Tarso nos alerta: “Empenhai-vos em procurar a caridade. Aspirai igualmente aos dons espirituais, sobretudo ao de profecia” (I Coríntios 14:1) e “Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo, abraçai o que é bom” (I Tessalonicenses 5:19-21). Na Idade Média, destacou-se a figura admirável de Joana D’Arc, que jamais renegou as vozes espirituais.Entretanto, somente a partir dos séculos XVIII e XIX é que podemos considerar os fenômenos mediúnicos como precursores do Espiritismo. Conforme indica Arthur Conan Doyle, na fase anterior a essa época, os episódios de comunicação de espíritos eram esporádicos.
                                     Joana D'arc
    A partir do século XVIII, porém, passam a ocorrer em uma seqüência metódica, com “a característica de uma invasão organizada”. É nessa época mais moderna que vamos encontrar alguns notáveis antecessores dos médiuns espíritas, como o famoso vidente sueco Emmanuel Swedenborg, engenheiro militar, insigne teólogo, muito culto e dotado de grande potencial de forças psíquicas. Já na sua infância, tiveram início as suas visões, numa continuidade que se prolonga até a sua desencarnação. Suas forças latentes eclodiram, porém, com mais intensidade a partir de abril de 1744, em Londres. Desde então, afirma Swedenborg, “(...) o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.) Um outro precursor digno de menção foi Franz Anton Mesmer, médico, descobridor do magnetismo curador. Em 1775, Mesmer reconhece o poder da cura mediante a aplicação das mãos, ou seja, através da fluidoterapia. Acreditava que, por nossos corpos, transitam fluidos curadores. Pela manipulação desses fluidos, Mesmer preparava o caminho para o hipnotismo do Marquês de Puységur (Arthur C. DOYLE.Op. cit.).
   Fatos também dignos de registro são os ocorridos com Andrew Jackson Davis (1826-1910), sensitivo considerado por Arthur C. Doyle como o profeta da Nova Revelação. Os poderes psíquicos de Davis começaram a se manifestar nos últimos anos de sua infância: ouvia vozes de Espíritos, que lhe davam conselhos. À clarividência seguiu-se a clariaudiência. Na tarde de 6 de março de 1844, Davis foi tomado por uma força que o fez voar, em Espírito, da pequena cidade onde residia até as Montanhas de Catskill, a cerca de 40 milhas de sua casa.


1.2. Hydesville e as mesas girantes


   Os acontecimentos que mais diretamente determinaram o nascimento do Espiritismo foram os fenômenos mediúnicos ocorridos no ano de 1848, na aldeia de Hydesville (condado de Wayne, estado de Nova Iorque), nos Estados Unidos da América. Há algum tempo, na cabana da família Fox, ouviam-se pancadas e ruídos incomuns, que pareciam estar mais diretamente relacionados às meninas Margareth e Katherine, filhas do casal Fox. Em 31 de março de 1848, ocorreu o primeiro diálogo das jovens com o Espírito que provocava os ruídos. Tal fenômeno, que se repetiu diversas vezes, atraiu a atenção pública, inclusive da imprensa, e foi constatado por numerosos observadores, a ponto de marcar, na América do Norte, a data do nascimento do que intitularam de Moderno Espiritualismo.

As irmãs Fox
   Descobriu-se que as revelações ruidosas partiam do Espírito de um mascate, de nome Charles Rosma, que fora assassinado e sepultado no porão da casa da família Fox. A família seguia a religião Metodista e Margareth e Katherine eram potentes médiuns. Na noite de 31 de março, para viabilizar a comunicação entre as médiuns e o Espírito do vendedor ambulante, um dos presentes, o Sr. Isaac Post, usou, pela primeira vez, letras do alfabeto para formação de palavras,mediante a convenção de que a cada letra corresponderia determinado número de pancadas. Estava, pois, descoberta a telegrafia espiritual, que foi o processo adotado na comunicação por mesas girantes.
   Em 1850, já era tamanha a repercussão dos fenômenos de Hydesville e tal a afluência dos curiosos, que a família Fox se mudou para a cidade de Nova Iorque, continuando as sessões públicas no Hotel Barnum. Nessa época, já somava vários milhares o número dos espiritualistas norte-americanos. Apesar disso, a imprensa continuava a condenar os fenômenos.
   A relevância desses acontecimentos pode ser assinalada ainda pela sua ressonância na esfera científica, motivando várias investigações por diversos pesquisadores, como Dale Owen, William Crookes, o Juiz Edmonds etc. O acontecimento de Hydesville repercutiu na Europa, despertando as consciências e, ao lado dos fenômenos das mesas girantes , preparou o advento do Espiritismo.
    A princípio, nas sessões de mesas girantes, o móvel apenas erguia-se, sob a imposição das mãos dos médiuns reunidos à sua volta. Com o desenvolvimento desse método, as mesas passaram a levantar-se sobre um pé e, por telegrafia espiritual , responder as perguntas feitas. Mais adiante, começaram também a mover-se em todos os sentidos, girando sob os dedos dos pesquisadores. As mesas eram escolhidas para esses estudos devido a sua comodidade, pois o efeito observado com elas poderia, ser conseguido com qualquer outro objeto.
As mesas girantes
   Entre os anos de 1853 e 1855, os fenômenos das mesas girantes constituíam verdadeiro passatempo, sendo diversão obrigatória nas reuniões sociais. Por outro lado, eram também objeto de estudo de vários cientistas. A divulgação dessas experiências e, a seguir, a conversão do Juiz Edmonds, materialista que rira da crença nos Espíritos, pasmaram todos os norte-americanos, aumentando ainda mais o interesse pelas manifestações inteligentes.
 Em Paris, as pessoas assistiam atônitas a esse turbilhão de fenômenos imprevistos que, para a maioria, só alucinadas imaginações poderiam criar, mas que a realidade impunha aos mais céticos.
   Pelo ano de 1855, convidado por um amigo para observar as mesas girantes, o professor Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail) se entregou a observações perseverantes sobre esse fenômeno, cogitando principalmente de lhe deduzir as conseqüências filosóficas. Entreviu, desde logo, o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. Reconheceu, na ação deste último, uma das forças da Natureza, cujo conhecimento haveria de lançar luz sobre uma imensidade de problemas tidos por insolúveis, e lhe compreendeu o alcance, do ponto de vista religioso.
   O posicionamento de Kardec diante desses fatos determinou o advento da Doutrina Espírita. A partir do momento que deixou de contestar os fenômenos mediúnicos e passou a estudá-los, abriu o caminho para que os Espíritos Superiores o guiassem na edificação da Doutrina Consoladora. No entanto, Kardec entendeu que as manifestações físicas fariam parte de uma fase inicial. Refere-se a esses fenômenos como manifestações de forças inteligentes que utilizaram, de início, as mesas segundo sinais convencionados, mas proclama que este meio ainda grosseiro era demorado e incômodo.

Allan Kardec
   Por isso, sob a instrução dos próprios Espíritos, amarrou-se um lápis no fundo de uma cesta, que era colocada sobre uma prancheta. O médium impunha seus dedos às bordas da cesta, sem tocá-las e a cesta escrevia diretamente as respostas dadas pelos Espíritos. Mais tarde, reconheceu-se que a cesta e a prancheta eram simplesmente um apêndice da mão do médium. Dessa maneira, colocou-se o lápis diretamente em sua mão, o que tornou as comunicações mais rápidas, fáceis e completas.
Prancheta com o lápis
   Mesmo com a evolução das manifestações mediúnicas, as mesas girantes sempre representarão o ponto de partida da Doutrina Espírita. Mostrando esses fenômenos na sua maior simplicidade, elas facilitam o estudo das causas que os produzem, fornecendo a chave para a decifração dos efeitos mais complexos.

Fontes de consulta
1. KARDEC, Allan.O Livro dos Espíritos . Introdução ao estudo da Doutrina Espírita. FEB, 1994. item 4, pág.19-21; item 5, pág 21.
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns . Das Manifestações físicas. FEB, 1995. item 60, pág. 83.
3. KARDEC, Allan. Obras Póstumas . Minha primeira iniciação no Espiritismo. FEB, 1993. pág.265-271.
4. KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo . Falsas explicações dos fenômenos. FEB, 1990, pág. 82-86.
5. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo . O Episódio de Hydesville. Pensamento. Pág. 73-92.
6. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo Básico . Primórdios do Espiritismo. FEB, 1987, pág. 42-49.
7.GIBIER, Paul. O Espiritismo (O Faquirismo Ocidental). Origens do Espiritismo. FEB, 1980, Primeira parte. Cap. III, pág. 34-43.
8. WANTUIL, Z. & Thiesen, F. Allan Kardec . Os acontecimentos de Hydesville. FEB, 1980, v.2, pág.54. As mesas girantes e dançantes. FEB, 1980, pág. 56.
9. WANTUIL, Zeus. As Mesas Girantes e o Espiritismo . Item 2, pág. 9, 21, 41, 45, 46, 47 e 75.

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