domingo, 10 de março de 2013

4. A EXISTÊNCIA DE DEUS







1. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS.

Desde os tempos remotos, a criatura humana guarda a intuição da existência de um ser superior, ao qual dá diferentes nomes: Deus, Alá, Jeová, etc. Os selvagens veneravam a divindade nos fenômenos da Natureza, fatos que estavam fora do seu controle e do alcance de sua inteligência.
Com o passar do tempo e o desenvolvimento científico, o homem, pela investigação e pela experiência, passou a compreender melhor o mundo à sua volta, mas a sua ideia sobre Deus continuou obscura e ininteligível. O homem perdeu-se em complicados estudos teológicos, afastando-se cada vez mais das Leis Naturais que regem o Universo.
Enquanto a maioria das religiões tradicionais mostra Deus como um ser dotado das mesmas características psicológicas e físicas que o homem, como se fosse um velho barbudo, de rosto sisudo e olhar acusador sobre as pessoas, o Espiritismo parte de dados racionais e apresenta Deus como um Ser Supremo, dotado de bondade, justiça e amor.
Allan Kardec, em «O Livro dos Espíritos», na primeira pergunta, propõe uma questão aos espíritos sobre a Divindade, de forma lógica; não usa a forma Quem é Deus?, que daria um sentido de personificação, ou seja, uma ideia antropomórfica, mas busca a natureza íntima, a essência das coisas, formulando a proposição desta forma – Que é Deus? Ao que os espíritos, sabiamente, respondem:

"Deus é a inteligência suprema,
causa primária de todas as coisas".

Deus, porém, não pode ser percebido pelo homem em sua divina essência. Pode o homem, ter convincentes provas de que Deus existe, mas advindas por outros caminhos, que transcendem aos dos sentidos: o da razão e do sentimento.
        Racionalmente, não é possível admitir um efeito sem causa. Olhando o Universo imenso, a extensão infinita do espaço, a ordem e harmonia a que obedece a marcha dos mundos inumeráveis, os seres da natureza, os minerais com suas admiráveis formas cristalinas, o reino vegetal em sua exuberância, numa variedade de plantas quase infinita, os animais com seus portes altivos ou a fragrância de certas aves ou miríades de insetos, o mundo microscópico com incontáveis formas unicelulares; toda essa imensidão, profusão e beleza nos obrigam a crer em Deus, como causa necessária. Mas se preferirmos contemplar apenas o que é o nosso próprio corpo, quanta harmonia também divisaremos nas funções que se exercem a revelia de nossa vontade num ritmo perfeito. Nas maravilhas que são os nossos sentidos; os olhos admiravelmente dispostos para receber a luz refletida nos corpos, condicionando no plano físico a percepção dos objetos e das cores; o ouvido, adequadamente estruturado à percepção de sons, melodias e grandiosas sinfonias; o olfato, o gosto, o tato, outros tantos sentidos que nos permitem instruir-nos sobre a objetividade das coisas. Toda essa perfeição, a harmonia da natureza humana e do mundo exterior ao homem, só pode ser criação de um Ser Supremamente inteligente e Sábio, o qual chamamos de Deus.
        “Há um provérbio que diz: Pela obra se conhece o autor! Vede a obra, e procurai o autor (....). A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; o engenho do mecanismo atesta-lhe a inteligência e o saber. Quando um relógio nos dá o momento preciso, a indicação de que necessitamos, já nos ocorreu dizer: "Aí está um relógio bem inteligente"? Pra um efeito inteligente, existe uma causa inteligente.
        Procurando a obra primária do Universo, reconhece-se no seu autor uma inteligência suprema, uma inteligência superior à humanidade. Seja qual for o nome que lhe dêem, essa inteligência superior é a causa primária de todas as coisas. Para crer-se em Deus basta lançar o olhar para as obras da criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo o efeito tem uma causa, e adiantar que o nada pode fazer alguma coisa.
É pelo sentimento, mais do que pelo raciocínio, que o homem pode compreender a existência de Deus. Há no homem, desde o mais primitivo até o mais civilizado, a ideia inata da existência de Deus.
        A ideia de Deus transmitida por Moisés e pelos antigos profetas foi a que se adaptava à compreensão de um povo de pastores, há trinta e muitos séculos. Um Chefe.
A ideia de Deus que Jesus transmitiu, sem negar o que era divino na Lei de Moisés, foi a de um Deus de amor, compaixão e justiça. Um Pai.
O Espiritismo, portanto, tem na existência de Deus o princípio maior, que esta na base desta Doutrina. Sem pretender dar ao homem o conhecimento da Natureza íntima de Deus, permite-se argumentar que prova a Sua existência a realidade palpitante e viva do Universo. Se este existe, há de ter um divido Autor.


2. ATRIBUTOS DA DIVINDADE.

        Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se a obra da criação. Esse é o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência imaginaram muitos deuses; as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele um Deus ocioso, colérico, parcial e vingativo.


  • Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer,  poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.
  • Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.
  • Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.
  • Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito ás transformações da matéria.
  • Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.
  • Deus é soberanamente justo e bom. A providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade. O fato do ser infinita uma qualidade, exclui a possibilidade de uma qualidade contrária, porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina mancha preta.
  • Deus é infinitamente perfeito. É impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo.
  • Deus é único. A unicidade de Deus é consequência do fato de serem infinitas as suas perfeições. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus.


Todos os seres se relacionam com Deus tal como as criaturas com o Criador. Na medida em que evoluem, ampliam a sua consciência dessa unidade criatura-Criador. Todos os seres criam expressando Deus e nesse sentido pode-se compreender que Deus está presente em todos os seres (Deus onipresente). Pode-se compreender, também, que Deus é consciente através da consciência de todos os seres do universo (Deus onisciente). E, por fim, Deus faz, age, constrói através de suas criaturas. Elas são instrumentos do amor, da justiça, verdade, da evolução. A estruturação inteligente é operada pelas suas criaturas (Deus onipotente).
"Deus é vida, paz, amor, compreensão, inteligência, justiça, caridade suprema. Deus é a expressão da vida, é a dinâmica da vida. Deus é a unidade que se revela todos os dias quando nos procuramos” (Antônio Grimm).


ONDE ESTÁ DEUS?

"Onde está Deus?", pergunta o cientista,
Ninguém O viu jamais. "Quem Ele é?".
Responde à pressa, o materialista:
"Deus é somente uma invenção da fé!".

O pensador dirá, sensatamente:
"Não vejo Deus, mas sinto que Ele existe!
A natureza mostra claramente
Em que o poder do Criador consiste".

Mas o poeta dirá, com a segurança
De quem afirma porque tem a certeza:
"Eu vejo Deus no riso da criança,
No céu, no mar, na luz da natureza!

Contemplo Deus brilhando nas estrelas,
No olhar das mães fitando os filhos seus,
Nas noites de luar claras e belas,
Que em tudo pulsa o coração de Deus!

Eu vejo Deus nas flores e nos prados,
Nos astros a rolar no infinito,
Escuto Deus na voz dos namorados,
E sinto Deus na lágrima do aflito!

Percebo Deus na frase que perdoa,
Contemplo Deus na mão que acaricia.
Escuto Deus na criatura boa
E sinto Deus na paz e na alegria!

Eu vejo Deus no médico salvando,
Pressinto Deus na dor que nos irmana.
Descubro Deus no sábio procurando
Compreender a natureza humana!


Eu vejo Deus no gesto da bondade,
Escuto Deus nos cânticos do crente.
Percebo Deus no sol, na liberdade,
E vejo Deus na planta e na semente!

Eu vejo Deus, enfim, em toda parte,
Que tudo fala dos poderes teus,
Descubro Deus nas expressões da arte,
No amor dos homens também sinto Deus!

Mas onde eu sinto Deus com mais beleza,
Na sua mais sublime vibração,
Não é no coração da natureza,
É dentro do meu próprio coração!".

(José Soares Cardoso)



Referências bibliográficas
1) Kardec, Allan. “A Gênese”. Capítulo 2: Deus (itens 8 a 19).
2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, itens 13 a 16.

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