domingo, 17 de março de 2013

5. A PROVIDÊNCIA DIVINA




Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo e se realizem objetivos de ordem e harmonia, visando o bem e a felicidade das criaturas com a plena satisfação das suas reais necessidades, sejam físicas ou espirituais.

Deus, em relação às suas criaturas, é a própria Providência, na sua mais alta expressão, infinitamente acima de todas as possibilidades humanas. Manifesta-se a Providência Divina em todas as coisas, está imanente1 no Universo e se exerce através de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem de seus filhos, desde as mais elementares providências para a manutenção da vida orgânica e a sua transmissão, garantindo a perpetuação da espécie, até a concessão da faculdade superior do livre-arbítrio, cabendo ao homem o mérito da conquista consciente da felicidade, pela prática voluntária do bem e a livre busca da verdade. Deus tudo fez e faz a bem de suas criaturas. Imprimiu-lhes na consciência as leis morais de trabalho, reprodução, conservação e destruição - esta não abusiva, mas equilibrada; como também a lei de sociedade, obedecendo à qual devem organizar-se em famílias ou em mais amplas comunidades sociais, em cujo seio vão cumprir deveres, ligados todos àquelas leis morais e ainda às progresso, igualdade e liberdade, em seu justo e mais elevado sentido e, sobretudo à lei de justiça, amor e caridade.

Propicia Deus, assim, ao homem construir própria felicidade pela livre observância dessas leis e o cumprimento dos correspondentes deveres, e ele só é infeliz quando os descumpre ou com elas se desarmoniza. Faz o homem tudo o que quer utilizando-se do livre-arbítrio que a Divina Providência lhe confere para construir ativa e meritoriamente o seu destino; mas é também plenamente responsável pelos atos praticados, devendo arcar com todas as consequências deles decorrentes, sejam estas felizes ou infelizes. Parece então, que se opõem a Providência Divina e o livre-arbítrio humano. Mas não. Deus concede o livre-arbítrio ao homem para que ele acrescente à sua felicidade o mérito da iniciativa e espontaneidade, no trabalho, na busca do próprio bem, na livre escolha caminho reto para o conseguir.    
A tudo Deus realmente provê, mas não quer inativa sua criatura, recebendo passivamente a graça divina, e sim que a busque por si mesma, conquistando através de perseverantes esforços a felicidade e o progresso.

Pelo uso do seu livre-arbítrio, a alma fixa o próprio destino, prepara as suas alegrias ou dores. Jamais, porém, no curso de sua marcha, na provação amargurada ou no seio da luta ardente das paixões, lhe será negado o socorro divino. Nunca deve esmorecer, pois, por mais indigna que se julgue; desde que em si desperta a vontade de voltar ao bom caminho, à estrada sagrada, a Providência dar-lhe-á auxilio e proteção.

A Providência é o espírito superior, é o anjo velando sobre o infortúnio, é o consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol aceso no meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida. A Providência é, ainda, principalmente, o amor divino derramando-se a flux2 sobre suas criaturas. Que solicitude, que previdência nesse amor! (...) “A alma é criada para a felicidade, mas, para poder apreciar essa felicidade, para conhecer-lhe o justo valor, deve conquistá-la por si própria e, para isso, precisa desenvolver as potências encerradas em seu intimo. Sua liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com a própria elevação, porque, quanto mais se esclarece, mais pode e deve conformar o exercício de suas forças pessoais com as leis que regem o Universo”.

A liberdade do ser se exerce, portanto, dentro de um círculo limitado: de um lado, pelas exigências da lei natural, que não pode sofrer alteração alguma e mesmo nenhum desarranjo na ordem do mundo; de outro, por seu próprio passado, cujas consequências lhes refluem através dos tempos, até à completa reparação. Em caso algum, o exercício da liberdade humana pode obstar à execução dos planos divinos; contrário, a ordem das coisas seria a cada instante perturbada. Acima de nossas percepções limitadas e variáveis, a ordem imutável do Universo prossegue e mantém-se.

Quase sempre julgamos um mal aquilo que para nós é o verdadeiro bem. Se a ordem natural das coisas tivesse de amoldar-se aos nossos desejos, que horríveis alterações daí não resultariam? O primeiro uso que o homem fizesse da liberdade absoluta seria para afastar si as causas de sofrimento e para se assegurar, desde logo, uma vida de felicidade. Ora, se há males que a inteligência humana tem o dever de conjurar, de destruir - por exemplo, os que são provenientes da condição terrestre -, outros há, inerentes à nossa natureza moral, que somente dor e compressão podem vencer; tais são os vícios. Nestes casos, torna-se a dor uma escola, ou, antes um remédio indispensável: “as provas sofridas não são mais que distribuição equitativa da justiça infalível."

Mas a Providência Divina, em relação à Humanidade terrestre, ainda se manifestou quando Deus nos confiou a Jesus, como discípulos a um Mestre e como ovelhas a um Pastor. Com que solicitude e paciência infinita Ele nos vem, desde tão, ensinando e conduzindo, através de séculos e milênios!

Não estamos em momento algum desamparados ou à nossa própria sorte abandonados. Divina Providência, que nos acompanhas através de vidas sucessivas, objetivando o nosso progresso e a nossa ascensão, mesmo quando nos fazes sofrer - pois, se por nossa culpa e o mau exercício do livre-arbítrio, estivermos, de fato, sofrendo, por força da Lei, as consequências dos nossos desmandos, pela própria Lei seremos devolvidos à paz e à felicidade, beneficiados pela dor redentora, enriquecidos de experiência e de sabedoria -, desde o momento em que te reconhecemos e nos conscientizamos da tua imanência numa Lei sábia e soberana, e estabelece tudo para o nosso bem, louvamos Àquele de quem emanas, na imensidão da Sua Justiça e do Seu amor!

 


1 Imanente - Que está compreendido na própria essência do todo. Aderente, permanente. Perdurável.


2 Flux - A flux: a jorros, em abundância.




1. FÉ NA JUSTIÇA



       Nossas reflexões nos convidam a ter uma atitude de responsabilidade diante da vida. Para isso é preciso parar de se lamentar ou se revoltar pelos infortúnios que acontecem conosco e buscar uma atitude construtiva de ação, em que se assume a vida com todos os seus desafios, tornando-a cada vez mais harmonizada e feliz.

        A vida sempre nos oferece, através da Providência Divina, abundância, mas muitas vezes, ao invés de ir em direção à abundância, ficamos a colher migalhas do banquete da vida e nos lamentar por isso, num processo de menos valiza, devido à nossa baixa auto-estima, desprezando os recursos que Deus nos oferece. (Parábola do Festim de Bodas)

         Todos somos chamados pela Providência Divina a usufruir o banquete da vida e desprezamos, nos revoltamos contra o convite. São poucos aqueles que escolhem, por si mesmos, vestir a túnica nupcial para participar do grande festim.

         A túnica nupcial simboliza a fé e a confiança em Deus, autor do convite para o banquete. Para termos a abundância da vida é preciso confiar, é preciso fé. O caminho para que tenhamos essa fé é Jesus.

         O ser humano possui uma dualidade, ainda envolta com as sombras do ego, querendo vivenciar a luz da Essência. Sabemos que essa dualidade é transitória e tende para a unidade.

         Mas, enquanto o Ser Essencial não se afirma em seus esforços no amor e no bem, permaneceremos entre a crença e a incredulidade.

      No estado de ignorância moral em que ainda nos encontramos, isso é natural e explica o motivo pelo qual estamos envoltos pelas dificuldades já colocadas. A fé e a confiança serão desenvolvidas através de exercícios continuados em nós mesmos, especialmente nos momentos de testemunho.

        É claro que não basta dizer crer em Jesus com os lábios. A ajuda que Ele sempre nos oferece é servir de modelo, demonstrando todo o seu amor e que podemos fazer o mesmo que Ele fez.

       Podemos desenvolver em nós o imenso amor do qual Jesus é o maior exemplo para a humanidade. É esse o maior exercício que a vida nos convida, ter fé e confiança em nós mesmos, em nossa capacidade de amar, de perdoar, de evoluir até a plenitude do Ser, para, por nossa vez, ir até o nosso Pai de Amor e Compaixão, e ficarmos para sempre na Casa do Pai, formando um só rebanho com um só Pastor.






Referências bibliográficas


1) Kardec, Allan. “A Gênese”. FEB 1992. Capítulo 2: A providência (itens 20 a 30).

2) Denis, Léon. “Depois da Morte”. Livre Arbítrio e providência. FEB, 1996. pág 243-244.




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