Na questão 344 do Livro dos Espíritos lemos que:
344.
Em
que momento a alma se une ao corpo?
“A
união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o
instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se
liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante
em que a criança vê a luz. O grito, que o recém-nascido solta, anuncia que ela
se conta no número dos vivos e dos servos de Deus.”
1. OBJETIVO DA ENCARNAÇÃO
Deus criou os Espíritos simples e ignorantes, isto é, tendo tanta
aptidão para o bem quanto para o mal. O destino de todos é a perfeição
espiritual e, para atingi-la, devem passar por experiências e adquirir
conhecimentos, fortalecendo-se no exercício do bem e desenvolvendo em si o amor
sublime.
A vida na matéria propicia o aperfeiçoamento do Espírito. Ao assumir um
corpo, ou seja, ao encarnar, os Espíritos são submetidos a situações e provas
necessárias ao seu adiantamento moral. Quando erram e não atingem os objetivos
propostos em determinada encarnação, voltam a sofrer as vicissitudes da vida
corporal, reencarnando em tarefa expiatória. A vida na matéria possibilita,
ainda, a cooperação de cada Espírito com a Obra Divina, no mundo em que habita.
Como todos os fenômenos da vida, a encarnação está sujeita a leis
imutáveis. Os processos de encarnação, embora obedecendo aos princípios gerais
estabelecidos pelas leis divinas, variam de caso para caso.
A união da alma ao corpo é planejada previamente, tendo como principal
determinante, no nosso Orbe, as provas ou expiações pelas quais o Espírito
deverá passar, com o objetivo de sua redenção. O encarnante poderá cooperar ou
trabalhar ativamente nesse planejamento. De acordo com o grau evolutivo em que
se encontre, o Espírito poderá facilitar ou dificultar o processo do
renascimento. Os que se detêm no desamor e no desequilíbrio reclamam cooperação
muito maior dos benfeitores que se encarregam das tarefas de renascimento. Os
Espíritos rebeldes ou indiferentes têm sua encarnação completamente a cargo dos
trabalhadores divinos, que escolhem as condições sob as quais deverão renascer
e as experiências a que deverão se submeter.
A maioria dos que retornam à existência corporal na esfera do Globo é
magnetizada pelos benfeitores espirituais, que lhe organizam novas tarefas
redentoras. Muitos encarnam em estado de inconsciência. Os processos de
encarnação são operações graduais: iniciam-se na concepção e se completam no
nascimento. A união da alma com o corpo efetua-se por meio do
perispírito, envoltório fluídico, que servirá de ligação entre o Espírito e a
matéria. Em mecanismo extremamente variado e complexo, quer pela ação do
próprio reencarnante, quer pela ação dos benfeitores espirituais, o perispírito
é reduzido, condensado e se assimila às moléculas materiais.
O perispírito torna-se um molde fluídico que age sobre o corpo em
formação, juntamente com as condicionantes hereditárias, a influência mental
materna e a atuação dos benfeitores que colaboram no processo reencarnatório. A
modelagem fetal e o desenvolvimento do embrião obedecem a leis físicas
naturais, qual ocorre na organização de formas em outros ramos da Natureza,
mas, em todos esses fenômenos, os ascendentes de cooperação espiritual
coexistem com as leis, de acordo com os planos de evolução ou resgate.
Pelas necessidades de expiação ou de
provas, o corpo em formação poderá apresentar deficiências ou
qualidades, que se constituirão em oportunidades de redenção ou reequilíbrio.
No período que se estende da concepção ao nascimento o estado do encarnante
assemelha-se ao do Espírito encarnado durante o sono. Os Espíritos mais
evoluídos gozam de maior liberdade. Contudo, desde o momento da concepção, o
Espírito sente as consequências de sua nova condição. Começa a se sentir
perturbado. Uma espécie de torpor, agonia e abatimento o envolvem gradualmente,
intensificando-se até o término da vida intra-uterina. Suas faculdades vão-se
velando uma após outra, a memória desaparece, a consciência fica adormecida, e
o Espírito como que é sepultado em opressiva crisálida. Esse fenômeno se deve à
constrição do períspirito e à sua limitação pelo corpo, que fazem com que a
existência no Plano Espiritual e a consciência das vidas pregressas volvam ao
inconsciente.
O esquecimento do passado não é absoluto. Durante o sono, libertado
parcialmente dos laços corporais, o Espírito pode ter a consciência do
pretérito. Em muitas pessoas, o passado manifesta-se sob a forma de impressões
e em algumas poucas sob a forma de recordações, umas nítidas, outras vagas e
imprecisas. As reminiscências do passado podem manifestar-se com tendências
instintivas, simpatias inexplicáveis e súbitas, ideias inatas etc. Isso
acontece pelo fato de que o movimento vibratório do invólucro perispiritual,
amortecido pela matéria no decurso da vida atual, é excessivamente fraco para
que o grau de intensidade e a duração necessária à renovação dessas recordações
possam ser obtidos durante a vigília.
A oclusão da memória espiritual também não é definitiva. Com a
desencarnação, liberto das contingências materiais, o Espírito poderá retomar a
consciência de seu passado. Esse mecanismo, que faz com que o homem possa
esquecer suas experiências anteriores ao nascimento, é prova irrefutável da
Sabedoria Divina. O conhecimento total da vida passada, em outras encarnações e
no Plano Espiritual, apresentaria grandes inconvenientes para a reeducação dos
indivíduos e para o progresso da Humanidade. Implicaria em maiores dificuldades
ao Espírito na tarefa de transformação de sua herança mental e talvez no
prolongamento, através dos séculos, de ideias falsas, teorias errôneas e
preconceitos, que geralmente são tanto mais ativos quanto mais presentes na
memória do ser.
Na sua vida de relações, o homem teria de conviver com antigos
adversários, com o objetivo da reconciliação. Se os reconhecesse, encontraria dificuldades
para estabelecer os vínculos afetivos necessários ao entendimento mútuo. Na
qualidade de ofensor poderia se sentir humilhado e, na qualidade de ofendido,
magoado ou irado. Por outro lado, o conhecimento de um passa do faustoso
poderia avivar o orgulho humano, enquanto que um passado de miséria ou de erros
terríveis poderia causar desnecessária humilhação e talvez o remorso viesse a
paralisar todas as iniciativas no bem.
Para que o homem progrida espiritualmente e cumpra o programa de
trabalho que assumiu ao renascer no corpo físico, não é necessária a lembrança
das experiências anteriores. Na forma de intuições e impressões, o Espírito encarnado
tem por advertência, a não reincidir no erro, as lições do passa do impressas
na própria consciência, bem como as boas resoluções que tomou no sentido de sua
melhoria interior.
As tendências instintivas e, em alguns casos, o tipo de vicissitudes e
provas que sofre também podem esclarecer o homem sobre seu passado e sobre a
natureza dos esforços que tem de envidar para sua evolução. A observação de
suas más inclinações e das dificuldades por que passa permitirá que saiba o que
foi, o que fez e o que necessitará fazer para se corrigir.
FONTES DE CONSULTA
01 - KARDEC,
Allan. Da Volta do Espírito à Vida Corporal. In: O Livro dos Espíritos. Trad.
de Guillon Ribeiro, Rio de Janeiro, FEB, 1994. Parte 2. Cap. VII. Perg. 344,
351, comentário à perg. 394. Parte 2. Cap. I. Perg. 121.
02 - DENIS,
Léon.Reencarnação. In: .Depois da Morte. Trad. de João Lourenço de Souza. 19.
ed. Rio de Janeiro, FEB; l996.
03 - O
Problema do Destino. In: O Problema do Ser do Destino e da Dor. 16. ed. Rio de
Janeiro, FEB, 1991.
04 - XAVIER,
Francisco Cândidos Reencarnação. In: . Missionários da
Luz. Ditado
pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro, FEB, 1995.
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