1.1. Os precursores da Doutrina Espírita
A comunicação dos espíritos com o mundo material remontam à mais recuada antiguidade e, desde então, vêm ocorrendo em todos os tempos e entre todos os povos. A História está pontilhada desses fenômenos. Segundo Gabriel Delanne, já se encontravam relatos de evocações de espíritos no Código dos Vedas datado de 1000 a.C. Na Bíblia, existem váriasreferências à comunicação dos espíritos com os encarnados, dentre as quais esta recomendação do apóstolo João: “Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus” (I João 4:1). A este propósito, também Paulo de Tarso nos alerta: “Empenhai-vos em procurar a caridade. Aspirai igualmente aos dons espirituais, sobretudo ao de profecia” (I Coríntios 14:1) e “Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo, abraçai o que é bom” (I Tessalonicenses 5:19-21). Na Idade Média, destacou-se a figura admirável de Joana D’Arc, que jamais renegou as vozes espirituais.Entretanto, somente a partir dos séculos XVIII e XIX é que podemos considerar os fenômenos mediúnicos como precursores do Espiritismo. Conforme indica Arthur Conan Doyle, na fase anterior a essa época, os episódios de comunicação de espíritos eram esporádicos.
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| Joana D'arc | 
    A   partir   do   século   XVIII,   porém, passam   a   ocorrer   em   uma   seqüência   metódica,   com   “a   característica   de   uma invasão organizada”. É   nessa   época   mais   moderna   que   vamos   encontrar   alguns   notáveis antecessores   dos   médiuns   espíritas,   como   o   famoso   vidente   sueco Emmanuel Swedenborg, engenheiro militar, insigne teólogo, muito culto e dotado de grande potencial   de   forças   psíquicas. Já   na   sua   infância, tiveram   início   as   suas   visões,   numa   continuidade   que   se   prolonga   até   a   sua desencarnação. Suas forças latentes eclodiram, porém, com mais intensidade a partir   de   abril   de   1744,   em   Londres.   Desde   então,   afirma   Swedenborg,   “(...)   o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo  e para conversar,  em plena  consciência, com anjos e Espíritos”.) Um   outro   precursor   digno   de   menção   foi Franz   Anton   Mesmer,   médico, descobridor do magnetismo curador. Em 1775, Mesmer reconhece o poder da cura mediante a aplicação das mãos, ou seja, através da fluidoterapia. Acreditava que, por nossos corpos, transitam fluidos curadores. Pela manipulação desses fluidos, Mesmer preparava o caminho para o hipnotismo do Marquês de Puységur (Arthur C. DOYLE.Op. cit.).
   Fatos também dignos de registro são os ocorridos com Andrew  Jackson Davis (1826-1910), sensitivo considerado por Arthur C. Doyle como o profeta da Nova Revelação. Os poderes psíquicos de Davis começaram a se manifestar nos últimos anos de sua infância: ouvia vozes de Espíritos, que lhe davam conselhos. À clarividência seguiu-se a clariaudiência. Na tarde de 6 de março de 1844, Davis foi tomado por uma força que o fez voar, em Espírito, da pequena cidade onde residia   até   as   Montanhas   de   Catskill,   a   cerca   de   40   milhas   de   sua   casa.
1.2. Hydesville e as mesas girantes
   Os   acontecimentos   que   mais   diretamente   determinaram   o  nascimento   do Espiritismo foram os fenômenos mediúnicos ocorridos no ano de 1848, na aldeia de Hydesville (condado de Wayne, estado de Nova Iorque), nos Estados Unidos da América. Há algum tempo, na cabana da família Fox, ouviam-se pancadas e ruídos incomuns,   que   pareciam   estar   mais   diretamente   relacionados   às   meninas Margareth e Katherine, filhas do casal Fox. Em 31 de março de 1848, ocorreu o primeiro diálogo das jovens com o Espírito que provocava os ruídos. Tal fenômeno, que se repetiu diversas vezes, atraiu a atenção pública, inclusive da imprensa, e foi constatado por numerosos observadores, a ponto de marcar, na América do Norte, a data do nascimento do que intitularam de Moderno Espiritualismo.
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| As irmãs Fox | 
   Descobriu-se   que   as   revelações   ruidosas   partiam   do   Espírito   de   um mascate, de nome Charles Rosma, que fora assassinado e sepultado no porão da casa da família Fox. A família seguia a religião Metodista e Margareth e Katherine eram potentes médiuns. Na noite de 31 de março, para viabilizar a comunicação entre as médiuns e o Espírito do vendedor ambulante, um dos presentes, o Sr. Isaac Post, usou, pela primeira vez, letras do alfabeto para formação de palavras,mediante a convenção de que a cada letra corresponderia determinado número de pancadas.   Estava,   pois,   descoberta   a telegrafia   espiritual,   que   foi   o   processo adotado na comunicação por mesas girantes.
   Em 1850, já era tamanha a repercussão dos fenômenos de Hydesville e tal a   afluência dos   curiosos,   que   a   família   Fox   se   mudou   para   a   cidade   de   Nova Iorque,   continuando   as   sessões   públicas   no   Hotel   Barnum.   Nessa   época,   já somava   vários   milhares   o   número   dos   espiritualistas   norte-americanos.   Apesar disso, a imprensa continuava a condenar os fenômenos.
   A   relevância   desses   acontecimentos   pode   ser   assinalada   ainda   pela   sua ressonância   na   esfera   científica,   motivando   várias   investigações   por   diversos pesquisadores, como Dale Owen, William Crookes, o Juiz Edmonds etc. O   acontecimento   de   Hydesville   repercutiu   na   Europa,   despertando   as consciências e, ao lado dos fenômenos das mesas girantes , preparou o advento do Espiritismo.
    A princípio, nas sessões de mesas girantes, o móvel apenas erguia-se, sob a imposição das mãos dos médiuns reunidos à sua volta. Com o desenvolvimento desse método, as mesas passaram a levantar-se sobre um pé e, por telegrafia espiritual ,   responder   as perguntas   feitas.   Mais   adiante,   começaram   também   a mover-se   em   todos   os   sentidos,   girando   sob   os   dedos   dos   pesquisadores.   As mesas   eram   escolhidas   para   esses   estudos   devido   a   sua   comodidade,   pois   o efeito observado com elas poderia, ser conseguido com qualquer outro objeto.  
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| As mesas girantes | 
   Entre os anos de 1853 e 1855, os   fenômenos   das   mesas   girantes   constituíam   verdadeiro passatempo,   sendo diversão obrigatória nas reuniões sociais. Por outro lado, eram também objeto de estudo de vários cientistas. A   divulgação   dessas   experiências   e,   a   seguir,   a   conversão   do   Juiz Edmonds, materialista que rira da crença nos Espíritos, pasmaram todos os norte-americanos, aumentando ainda mais o interesse pelas manifestações inteligentes.
 Em   Paris,   as   pessoas   assistiam   atônitas   a   esse   turbilhão   de   fenômenos imprevistos que, para a maioria, só alucinadas imaginações poderiam criar, mas que a realidade impunha aos mais céticos.
   Pelo   ano   de   1855, convidado por um amigo para observar as mesas girantes, o professor Allan Kardec   (Hippolyte Léon Denizard Rivail) se   entregou   a   observações   perseverantes   sobre   esse fenômeno, cogitando principalmente de lhe deduzir as conseqüências filosóficas. Entreviu, desde logo, o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. Reconheceu, na ação deste último, uma das   forças   da   Natureza,   cujo   conhecimento   haveria   de   lançar   luz   sobre   uma imensidade de problemas tidos por insolúveis, e lhe compreendeu o alcance, do ponto de vista religioso.
   O posicionamento de Kardec diante desses fatos determinou o advento da Doutrina   Espírita.   A   partir   do   momento   que   deixou   de   contestar   os   fenômenos mediúnicos   e   passou   a   estudá-los,   abriu   o   caminho   para   que   os   Espíritos Superiores o guiassem na edificação da Doutrina Consoladora. No entanto, Kardec entendeu que as manifestações físicas fariam parte de uma fase inicial. Refere-se a esses fenômenos como manifestações de forças inteligentes que utilizaram, de início,   as   mesas   segundo   sinais   convencionados,   mas   proclama   que   este   meio ainda grosseiro era demorado e incômodo.
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| Allan Kardec | 
   Por  isso,   sob   a   instrução  dos   próprios  Espíritos,   amarrou-se   um  lápis  no fundo de uma cesta, que era colocada sobre uma prancheta. O médium impunha seus dedos às bordas da cesta, sem tocá-las e a cesta escrevia diretamente as respostas   dadas   pelos   Espíritos.   Mais   tarde,   reconheceu-se   que   a   cesta   e   a prancheta eram simplesmente um apêndice da mão do médium. Dessa maneira, colocou-se o lápis diretamente em sua mão, o que tornou as comunicações mais rápidas, fáceis e completas.
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| Prancheta com o lápis | 
   Mesmo com a evolução das manifestações mediúnicas, as mesas girantes sempre representarão o ponto de partida da Doutrina Espírita. Mostrando esses fenômenos na sua maior simplicidade, elas facilitam o estudo das causas que os produzem, fornecendo a chave para a decifração dos efeitos mais complexos.
Fontes de consulta
1. KARDEC, Allan.O Livro dos Espíritos . Introdução ao estudo da Doutrina Espírita. FEB, 1994. item 4, pág.19-21; item 5, pág 21.
2. KARDEC,   Allan. O   Livro   dos  Médiuns .  Das  Manifestações  físicas.   FEB, 1995. item 60, pág. 83.
3. KARDEC, Allan. Obras Póstumas . Minha primeira iniciação no Espiritismo. FEB, 1993. pág.265-271.
4. KARDEC,   Allan. O   que   é   o   Espiritismo .   Falsas   explicações   dos fenômenos. FEB, 1990, pág. 82-86.
5. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo . O Episódio de Hydesville. Pensamento. Pág. 73-92.
6. BARBOSA, Pedro Franco. Espiritismo Básico . Primórdios do Espiritismo. FEB, 1987, pág. 42-49.
7.GIBIER,   Paul. O   Espiritismo (O   Faquirismo   Ocidental). Origens   do Espiritismo. FEB, 1980, Primeira parte. Cap. III, pág. 34-43.
8. WANTUIL,   Z.   &   Thiesen,   F. Allan   Kardec .   Os   acontecimentos   de Hydesville. FEB, 1980, v.2, pág.54. As mesas girantes e dançantes. FEB, 1980, pág. 56.
9. WANTUIL, Zeus. As Mesas Girantes e o Espiritismo . Item 2, pág. 9, 21, 41, 45, 46, 47 e 75. 
 
 
  
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